Ouve-se e não se acredita!
Um grupo de anónimos deputados dos partidos da maioria preparava-se para avançar hoje de manhã numa barcaça, mar dentro, rumo ao barco das «Women on Waves», mais conhecido pelo «barco do aborto». E o que pretendia esse valoroso grupo de representantes da Nação? Abalroar o barco, em evidente demonstração de que com os interesses nacionais não se brinca? Obrigá-lo a retirar-se da costa portuguesa, impedindo assim que perdure por mais tempo o seu mau exemplo na juventude portuguesa? Ou, mais prosaicamente, limitar-se a actos de pirataria tradicional, aproveitando a fraqueza evidente de quem já não vem a terra há algum tempo?
Nada disso! Depois da demonstração de autoridade patriótica, sustentada numa afirmativa força militar (ainda dizem que o investimento nas Forças Armadas é despiciendo...), exibida pelo governo português, o alegre grupo, paradoxalmente - ao que se é obrigado a presumir - com a concordância do mesmo governo, queria «debater o tema do aborto», em solo pátrio, com as ocupantes do barco. Ora, como as senhoras se encontram proíbidas de atracar em Portugal, os nossos deputados queriam trazê-las para terra num barco devidamente autorizado para navegar nas soberanas águas lusitanas. Assim se demonstraria, segundo uma porta-voz entusiasmada do grupo parlamentar, que Portugal é um país de tolerância e de diálogo, onde imperam as boas regras democráticas.
Temos, assim, depois do «barco do aborto», o «barco do diálogo», em homenagem ao verdadeiro método de composição de todos os interesses desavindos, como bem nos ensinou o saudoso Eng. Guterres.
Tanta actividade náutica provoca enjoo, náuseas e vómitos. Não fosse isso, hoje à noite alugava o DVD do «Titanic» para ver se me divertia com a família.