1. A quantidade de riqueza que um indivíduo pode produzir numa cidade é muito maior que a que pode produzir num meio rural.
2. Por isso as cidades são muito atractivas. E por isso, o imobiliário é caro.
3. Um indivíduo só se pode instalar numa cidade se conseguir suportar os custos do alojamento.
4. A não ser que se torne num free-rider da sociedades. Para isso terá que ocupar terrenos com direitos de propriedade indefinidos ou bairros com rendas controladas que lhe permitam escapar ao pagamento de bens públicos.
5. Nada disto seria particularmente grave se não existissem barreiras à mobilidade social.
6. E para piorar as coisas, muitas das barreiras à mobilidade social foram concebidas para ajudar os pobres. Estão neste caso as leis do salário mínimo e as leis que limitam os despedimentos.
7. Graças a estas leis, os pobres são forçados a recorrer a actividades ilegais ou semi-ilegais ficando desta forma excluidos do resto da sociedade.
8. Apesar de tudo, os pobres acumulam riqueza. Só que, como os guetos onde se instalam são semi-ilegais, e a riqueza está sob a forma de direitos de propriedade indefinidos, essa riqueza não é trasaccionável o que impede a mobilidade.
9. Segue-se que os problemas dos guetos não podem ser resolvidos pela educação e formação profissional porque, dado que estas pessoas estão à partida excluidas do mercado de trabalho normal e da educação informal que só o trabalho permite, elas não vêem nenhuma vantagem na educação formal.
10. Os problemas dos guetos também não se resolvem com intervenções policiais porque a polícia é apenas o último recurso da civilização. A civilização assenta em pilares mais sólidos do que o policiamento (algo que o nosso leitor Viana ainda não percebeu). Assenta em regras que dependem essencialmente na contínua interacção entre indivíduos livres. Nos contratos, no respeito pela propriedade, no respeito pela vida humana e na importância da reputação dos indivíduos. E o problema dos guetos é que os seus habitantes encontram barreiras que os impedem de estabelecer relações civilizadas com o resto dos habitantes da cidade.