17.6.05

A entrevista

Manuela Ferreira Leite não deu uma grande entrevista. Entrou em (alguma) contradição na tentativa de justificar as suas medidas de contenção quando comparadas com as do Governo Sócrates; não atacou abertamente Bagão Félix (a propósito dos 6,4% de défice para 2004, previstos pelo MF de Santana no início do seu mandato), mas pareceu não ter lido a notícia do DN sobre o assunto (teria sido fácil explicar que Bagão não estava propriamente a acusá-la de ter deixado um défice de 6,4, mas apenas previu que se poderia atringir esse valor no final de 2004 se nada fosse feito). Defendeu com convicção, mas sem grande argumentação, as "receitas extraordinárias".
O ponto mais positivo da entrevista, apesar do pouco sucesso, foi a tetativa de MFL demonstrar (ou, pelo menos, de afirmar) o barrete que nos estão a enfiar com a história do 6,83%, já denunciado aqui no Blasfémias. O valor do défice indicado no Relatório da Comissãoo Constâncio não é o valor do défice de 2004 nem sequer o valor do défice na data da entrada em funções do Governo Sócrates. É uma previsão para 31 de Dezembro de 2005 que se verificaria apenas, nas palavras de Ferreira Leite, «se não existissem no Governo um Primeiro-Ministro e um Ministro das Finanças.» Com este logro, Sócrates faz lembrar os líderes partidários que reclamam vitórias eleitorais por terem tido mais votos do que as projecções das sondagens. Confesso que esperava mais e melhor.