18.6.05

A luta de classes no século XXI

Alguns comentários a um post de Daniel Oliveira:

Daniel Oliveira: A culpa do desemprego não é de quem tem emprego seguro.

Comentário: Culpa, culpa, daquela que nos impede de dormir à noite, é óbvio que não. Mas o desemprego tem duas causas fundamentais: 1- a existência de leis que desincentivam a contratação de desempregados (salário mínimo, barreiras aos despedimentos, encargos sociais para as empresas, direitos vários que tornam a contratação de trabalhadores pelas empresas). 2- A despesa pública que, por um lado garante os tais empregos seguros na função pública, e por outro destrói empregos no sector privado.

Daniel Oliveira: A culpa dos baixos salários não é de quem tem um salário quase decente.

Comentário: Os salários não se devem distinguir entre os decentes e os indecentes mas entre aqueles que remuneram a produtividade do trabalhador e aqueles que remuneram o poder político do trabalhador. Aquilo a que o Daniel chama salários decentes resulta de transferências dos trabalhadores que sem poder político que têm salários indecentes e uma produtividade razoável para os que têm poder político, salários decentes e não têm que produzir nada. Como raio é que os salários decentes são pagos? À custa de impostos indecentes, pois claro.


Daniel Oliveira: A culpa da desgraça dos nossos serviços públicos não é, antes de mais, de quem neles trabalha.

Comentário: O Daniel tem razão. Existem 700 mil trabalhadores e nenhum deles é responsável pelo que quer que seja. Mas esse é um problema de qualquer empreendimento socialista. Não existem responsáveis. Numa empresa privada, os responsáveis são rapidamente encontrados e, se a lei laboral esquerdista o permitir, despedidos. Na função pública, todos são promovidos ao fim de 3 anos, aconteça o que acontecer.


Daniel Oliveira:
Quase nenhum trabalhador português vive acima das possibilidades do país.

Comentário: Uma questão totalmente irrelevante. O que interessa saber é se existem trabalhadores que ganham acima da sua produtividade. E a verdade é que existem. Estão todos na função pública. Só na função pública é que um trabalhador pode auferir um bom salário sem produzir o que quer que seja.

Daniel Oliveira: Mais: este país não tem futuro com salários baixos porque salários baixos são trabalho sem qualidade.

Comentário: A esquerda não percebe a relação entre trabalho e produtividade. A esquerda está convencida que o aumento de salários gera produtividade. É ao contrário. A produtividade é que gera aumento de salários. E o problema da economia portuguesa é que os salários têm subido mais depressa que a produtividade.

Daniel Oliveira: E o trabalhador português, funcionário público incluído, ganha mal e paga, quase sozinho, a totalidade das despesas de um Estado que lhe dá pouco, cada vez menos.

Comentário: Eu sei que a matemática é fascista, mas também não exageremos. Os funcionários públicos recebem em salários 30% da despesa pública. São beneficiários líquidos do orçamento do estado. São pagos pelos privados e em troca prestam um péssimo serviço. Ou seja, os funcionários públicos exploram os trabalhadores do sector privado.

Conclusão: A esquerda, que sempre se preocupou com a exploração de uma classe por outra devia estar do lado dos explorados (os trabalhadores do sector privado) e não dos exploradores (os trabalhadores do sector público).