21.6.05

OS SOCIÓLOGOS DO NOSSO DESCONTENTAMENTO (com aditamento)

No DN de hoje (p. 24-25), é exibida a prova escrita de Sociologia do 12º ano (exame nacional do ensino secundário). No seu grupo III (o grupo I não aparece) há um texto para comentar que tenta roçar a temática jurídica - o que forçou a minha curiosidade.
O seu autor é Miguel Sousa Tavares que não é jurista de profissão (nem sociólogo, julgo) embora tenha essa formação.
Em má hora comecei a ler a prova. O texto (supostamente, um excerto do "Equador") era o seguinte:

«Todos sabemos que, teoricamente, a lei é igual em todos os lados, mas isso é uma ficção bondosa. Nenhum Império se construiu ou manteve assim: quem deu a Colombo a autoridade para prender Moctezuma (no original) quando desembarcou na América? (?)»

Julguei que me ia dar uma coisinha má. Cuidava eu que Colombo tinha ?esbarrado? com a América em 1492 e que, em nenhuma das suas 4 viagens, tinha atingido as costas do actual México.
Pressupunha também que o conquistador dos Aztecas tinha sido Fernando Cortés, em 1519 (cerca de 27 anos depois da descoberta da América e com Colombo já morto e enterrado desde 1506), e que teria sido às suas ordens que o imperador Montezuma foi preso tendo, depois, falecido em circunstâncias ainda hoje não totalmente explicadas.
Só que, na página seguinte do mesmo jornal, surge a douta correcção da prova e não há qualquer referência à impropriedade histórica da alusão. (após a publicação desta posta, nas Heresias/comentários os blasfemos Gabriel e CL chamaram-me a atenção para que este erro é identificado no emaranhado inextrincável a que, singelamente, se dá o nome de "correcção". Apesar disso, e chamando a atenção para o meu próprio lapso, mantenho tudo o que digo: é inadmissível que um erro histórico destes surja numa prova de exame. Recuso-me a considerar que tal tenha sido propositado: o erro "passou" e só foi detectado ulteriormente. Nessa altura, não havia outro remédio senão desvalorizá-lo - é precisamente isso que é feito na citada "correcção")

Não estou a afrontar Miguel Sousa Tavares: não sei se escreveu exactamente isto e, ainda que o tenha feito, tratava-se de um romance acerca do qual não existe um dever de fidelidade aos factos históricos.
Agora um exame nacional do 12º ano reproduzir, pacatamente, uma asneirada destas é incompreensível e indesculpável. Tremo ao imaginar que isto passou por um número considerável de pessoas, supostamente com formação superior, e não houve uma só alma que chamasse a atenção para o erro.

Quem avalia a cultura geral das sumidades que fazem este tipo de exames? Depois desta gaffe colectiva, que idoneidade tem esta gente para corrigir o que quer que seja? Em nome de que «ficção bondosa» é que calinadas deste calibre alcançam o estatuto de provas nacionais de aferição de conhecimentos?