Ontem à noite, em trânsito para Lisboa, algures na A1, ouvia na TSF os comentários do PCP, do Bloco de Esquerda e do Sindicato «Independente» dos Médicos às declarações do Ministro da Saúde a propósito do Relatório do Observatório para os Sistemas de Saúde.
Correia de Campos terá afirmado que, mais do que as 224 mil pessoas a aguardar por uma intervenção cirúrgica, preocupava-o o tempo de espera.
Caiu o «Carmo e a Trindade». No fundo, exigia-se a CC que teatralizasse, que estampasse no rosto uma profunda consternação, nos arautos do politicamente correcto, para agradar às massas populares, nomeadamente aos seus representantes mais «fiéis».
Mas não foi isso que se passou. Em primeiro lugar, importa referir que o Ministro não disse que não estava preocupado com as «listas». Correia de Campos, contudo, percebe de Saúde, e sabe que o que é essencial é que o tempo de espera seja o mais reduzido possível.
É importante saber ler para lá dos números, para perceber o que representam as listas de espera. Nos dias de hoje, existem listas de espera porque, também, o leque de intervenções disponíveis é cada vez mais amplo: há dez anos atrás, quantos portugueses poderiam aspirar a uma operação às cataratas; ou a uma prótese? Por isso, é necessário comparar as listas de espera com a produção hospitalar. Acresce que as listas de espera têm uma função moderadora; num sistema de saúde tendencialmente gratuito como o nosso, onde os recursos são escassos, escalar prioridades e dissuadir o consumo desnecessário é um factor fundamental de eficiência. Ora, num país «hipocondríaco», o acesso irrestrito e imediato aos cuidados de saúde poderiam fazer disparar o consumo, sem que isso representasse uma efectiva melhoria do estado de saúde dos portugueses. Prestar indicriminadamente cuidados de saúde pode não melhorar os índices de saúde das populações, mas «rebenta» fortemente com o Orçamento. O «truque» está em melhorar a qualidade e a eficiência, limitando o crescimento dos custos. E aqui, as listas de espera podem desempenhar o seu papel. Por isso é que CC considera essencial que se «olhe» para o tempo de espera, pois esse, sim, é um dos indicadores relevantes.
Jorge Pires (PCP), Ana Drago (BdE) e o Bicho Carpinteiro (também aqui) denotam um profundo desconhecimento daquilo que falam; ou será, apenas, que pretendem desviar a nossa atenção do restante conteúdo do Relatório do Observatório? Inclino-me para a segunda possibilidade. Mais: A Joana Amaral Dias tenta, ainda, criar um facto político, onde ele não existe: Sakerallides entende que, aos 64 anos de idade, não deve abrir uma excepção naquilo que foi uma regra basilar da sua vida: só exerce um mandato nos cargos que ocupa. So what?
É pena que se tente partidarizar um documento como o Relatório do Observatório, em vez de o utilizar para, serenamente, suportar ou acertar o rumo das Políticas Públicas. Para quem tenha paciência, recomendo que comparem o Relatório do Observatório com algumas notícias publicadas, como esta, da TSF. Viva o «bom» jornalismo...
O Sindicato Independente dos Médicos, por seu lado, limita-se a fazer o seu «papel»: pressionar o Governo a criar um plano de redução das listas de espera. Mas será que o SIM aceita rever os horários, passando a existir um horário da tarde, para que os blocos operatórios possam funcionar em horário normal até às 20 horas? Ou será que o alargamento do horário deve ser feito para lá do horário «normal», por recurso a «horas extraordinárias»? Capisci?
O Professor Correia de Campos tem sido alvo de várias críticas, pois é sabido que tem uma visão progressista, em alguns aspectos liberal, e em toda a linha portadora de uma noção de eficiência. A reacção sistemática de uma certa esquerda é disso reflexo evidente.
Uma coisa é certa: realmente, os intervalos musicais da TSF tornam a estrada mais penosa. O que um blogger sofre para estar actualizado...
Rodrigo Adão da Fonseca