Este fim-de-semana, fui às corridas. Morando a trezentos metros do circuito, e tendo sofrido com a intensa intervenção feita na Avenida da Boavista, Rua da Vilarinha, Circunvalação, bem como com as várias obras que o Sr. Narciso Miranda decidiu desenvolver em Matosinhos, na Rua Roberto Ivens, mais acima, junto à Escola Industrial etc... etc ... etc ... achei que deveria marcar presença para ver se tudo isto se justificava.
O que encontrei foi um evento bem organizado, com público, muito público, que encheu bancadas, paddocks, os lugares de peão, para ver os mais de 200 carros que, mais a sério ou em passeio, percorreram o circuito. Peças valiosas, algumas a rondar os milhões(!) de euros!
São de esperar críticas. Certamente. A cidade não vive sem elas, e muitos são os agentes provocadores que prefeririam que esta zona da cidade fosse pacata, para poderem usufuir em exclusivo do grande jardim que é o Parque da Cidade e das delícias do Passeio Marítimo sem a presença da massa anónima.
Eu, antes de criticar, fui ver. E visitei todo o perímetro, desde os vários paddocks (técnicos e VIP), bancadas, até aos «bastidores» (incluindo zonas de controle de segurança por video-vigilância, televisão, direcção da corrida do ACP), tendo questionado elementos responsáveis sobre a estrutura financeira do evento, segurança, sobre o modo como o evento foi estruturado.
O circuito da Boavista resultou do aproveitamento da intervenção feita nesta zona da cidade, relacionada com a extensão do Metro e com a necessidade de melhorar as infraestruturas com o escoamento de águas da Avenida que, entre outras consequências, fazia do Parque do Castelo do Queijo uma piscina sempre que chovia com alguma incidência (mais um ex libris do bom palneamento da Porto 2001). A Metro do Porto suportou directamente as obras relacionadas com a extensão desta linha, realizadas no Concelho do Porto e Matosinhos, pelo que não me parece que o seu custo deva ser imputado às corridas.
Conclui que o evento foi suportado em grande parte por patrocinadores e pelas receitas geradas pelo evento. As contas finais ainda não estarão feitas, mas aparentemente apontam para que a participação da CMP seja de baixo valor, certamente muito inferior ao custo do Edifício Transparente (que nem para este evento serviu), e claramente com maior retorno para a cidade do que o extinto Troféu Cidade do Porto que, anualmente, reunia FCP, Boavista, às vezes Salgueiros, Celta de Vigo e outros clubes que faziam o frete de se arrastarem em pré-época, e custavam à cidade 250 mil euros. Na verdade, vi que o investimento em equipamentos foi feito de forma criteriosa, procurando-se adquirir apenas aquilo que tenha uma utilidade futura. Por exemplo, o sistema de video-vigilância vai ser utilizado na segurança da cidade, permitindo monitorar e filmar, à semelhança do que ocorre na Baixa, a zona circundante ao Parque da Cidade e ao Castelo do Queijo. Vai ainda permitir à protecção civil ter imagens em momento real para definir os trajectos mais rápidos (v.g. INEM).
Conclui que foram feitos esforços no sentido de minimizar o impacto da corrida para os moradores, tendo obtido a colaboração da maioria. Curioso será ver que esse apoio foi massivo na zona da Vilarinha, e menor na Avenida da Boavista ...
Não sou grande fã de automobilismo. Se esta prova não tivesse ocorrido, até agradecia. Mas compreendo que tenha sido organizada, pois, pelo que vi, há na cidade grandes adeptos - e muitos - que vibram com este tipo de acontecimento. A cidade esteve cheia, assim como os hotéis, com muitos estrangeiros, especialmente britânicos e espanhóis (dos que gastam a sério).
Não sou grande fã de Rui Rio. Votei nele, e provavelmente, à falta de melhor, vou votar outra vez. Mas não faz o meu estilo. Defende uma Câmara demasiado intervencionista para meu gosto, e usa um estilo de confrontação que me desagrada profundamente. Pode ser-se íntegro e imprimir rupturas sem hostilizar o meio envolvente. Não aceita facilmente a crítica: e existem vários aspectos do seu consulado autárquico que merecem reparos (a paralisia dos serviços, nomeadamente o Urbanismo, e a dificuldade em vencer a burocracia são disso bons exemplos). Agora, há que reconhecer que o evento não merece os ataques que a intelectualidade nortenha e a oposição lhe têm dirigido.
No meio de tudo isto, só tenho pena de uns pobres seres: os patos do Parque da Cidade. Quando me dirigia ao paddock técnico, e os via impávidos e serenos a boiar no lago, pensava: estes pobres, não basta terem de fugir das crianças ao fim-de-semana, dos estudantes alcoólicos da Queima das Fitas, dos jogadores do Boavista que por vezes aí treinam (dizem as más línguas que foi numa destas sessões de treino que o Ricardo foi recrutado para uma peladinha), ainda têm que aguentar com o barulho infernal dos Maseratis, Ferraris, Fords, Datsuns de escapes bem abertos. E nunca esquecer que as corridas não eram só de clássicos: os carros do GT espanhol faziam uma barulheira!
Completamente desnecessário foi o fogo de artifício, que se prolongou para lá da uma da manhã. Para quem, como eu, acordou às seis e meia, a noite mal dormida já teve efeitos perversos: deixei o telemóvel no aeroporto, estando a viver uma experiência desconfortável de estar desligado do mundo!
O que vale é que esta semana, para recuperarem do stress pós-traumático acumulado, está agendado em frente ao Edifício Transparente um concerto dos Da Weasel...
Ficamos à espera das «contas» finais da CMP, para poder aí fazer um juízo mais definitivo.
Rodrigo Adão da Fonseca
P.S. No paddock havia um veículo estranho de duas rodas que dava um grande gás. Acho que vou comprar uma coisa daquelas. A minha mulher diz que eu sou altamente influenciavel pelo marketing. Eu barafusto sempre que não. O que é certo é que no sábado à noite dei por mim vestido com uma camisa da marca do principal patrocinador e pedi ... magret de pato!