Feito o diagnóstico (também aqui, aqui e aqui), é interessante tentarmos descortinar as causas da maleita. Coisa diferente será saber se tal esforço é útil, no sentido de consequente?.
Julgo que existem quer Causas universais, quer locais (ou seja, nossas, portuguesas) e, por outro lado, Causas imediatas e mediatas.
Claro que há causas mais ou menos universais que também nos afectam. Hoje em dia, não é romântico, não é colorido, nem consequentemente fácil ou, pelo menos, fácil de acordo com um critério mediático, cultivarem-se e valorizarem-se tais princípios, valores e cosmovisões liberais. Sobretudo na Europa, onde o vírus da utopia socialista teve um efeito e deixou um lastro quase genético. Mais visível na Europa continental; menos na anglo-saxónica, mas, ainda assim, presente e activo (se bem que mais vacinada com o antídoto que resultava dessa já mais longa e assimilada "tradição de liberdade").
Porém, deixando de lado as causas universais, no que diz respeito à "especificidade portuguesa", temos, assim,
- Algumas Causas Imediatas (que potenciaram - porque se adequaram como uma luva!- as Causas Mediatas) : 1) os mitos do PREC; 2) o salazarismo; 3) a aliança tácita entre uma certa cosmovisão salazarista e uma hierarquia da Igreja Católica que, circunstancialmente, foi dependente e aliada dessa cosmovisão salazarista, enaltecendo uma certa caridade piedosa e paternalista; 4) a falta (em quantidade e qualidade) de elites; 5) um permanente complexo colectivo de pequenez e uma sensação de sermos periféricos que cavou-nos um profundo medo (sim medo, como o oposto do risco) e uma quase bovina resignação e capacidade de aceitação de tudo, sobretudo, relativamente aos excessos do Estado. Para alguns, isto é o sinónimo de ?brandos costumes?.
6) A recusa de adesão ao Plano Marshal?..
- Algumas Causas Mediatas: 1) a não existência de um feudalismo medieval efectivo que, de uma forma ou outra, naturalmente, condicionaria, limitaria, o carácter centralista do Estado (Coroa) emergente; 2) o gosto pela riqueza fácil e pela especulação, sem produção, nem trabalho - consequência do sucesso mercantil da expansão portuguesa; 3) a correlativa vivência de uma ideia mitificada de império que subsiste muito depois de o dito cujo desaparecer; 4) o crónico (e desresponsabilizante) sebastianismo; 5) a expulsão dos judeus que tinham efectivo know-how e espírito empresarial, deixando os empreendimentos comerciais nas mãos dos "rapazes aprendizes" que rapidamente os transformaram nas nossas tão portuguesinhas "vendas"; 6) um atraso histórico relativamente ao processo de educação de massas (que dificultou, sistemática e historiamente, a formação de elites fortes e diversificadas); 7) a atracção, o fascínio por uma certa ruralidade serôdia e de ostentação social (vg., "foge cão, que te fazem barão?para onde, se me fazem visconde!?"); 8) a inexistência de uma revolução industrial; 9) a total ausência de uma cultura concorrencial que, só agora, incipientemente, se começa a formar - em parte, muito devido á descolonização tardia que nos garantia uma espécie de mercado seguro para as nossas pequenas produções e industrias, no decurso de grande parte do século XX??
Por isso, Portugal, hoje, como ontem, não rima com liberal!