7.7.05

Sobre fidelidades e infidelidades liberais (e, já agora, socialistas)

O Professor Vital Moreira [VM], no Causa Nossa, a propósito de um post escrito pelo João Miranda, afirma:

«(...) Entre os tópicos para explicar «por que é que a direita quando chega ao poder não é liberal» (mas qual é a importância da direita liberal em Portugal?) João Miranda menciona o "domínio das ideias de esquerda nas universidades, na cultura e nos media".
Como o "domínio da esquerda" só existe na sua imaginação, será com "balelas" ficcionais como estas que a "direita liberal" pensa encontrar resposta para a sua infidelidade liberal? (...)»

Como escrevi aqui, considero que em Portugal o espaço liberal «vale menos do que um terreno no meio do deserto sem água». Como dizia também aqui,

«(...) Todo o discurso político no nosso país, desde que me recordo, e até pouco tempo, girava - e ainda gira - à volta do «Social». Socialismo, Social-Democracia, Democracia Cristã, podem ter concepções diversas sobre o indivíduo e o Estado, sobre a iniciativa privada e pública; mas todas estas correntes defendem a promoção das políticas ditas "sociais", assumindo um conjunto de postulados que raramente eram postos em causa, como a progressividade fiscal, a redistribuição, a solidariedade, o Bem Comum (como algo distinto da mera soma dos interesses individuais), o Estado protector e soberano que todos protege, Educação, Emprego e Saúde para todos (paga pelo Estado, isto é, por todos). Para muitas pessoas, estes conceitos confundem-se até com a noção de democracia (...)».

O liberalismo começa a ganhar alguma expressão, ainda que diminuta, em função da mediatização de algumas das suas ideias, fruto do esforço comunicacional desenvolvido por blasfemos e outros blogues de inspiração liberal e, bem assim, de alguns colunistas, sobretudo no Diário Económico, Diário de Notícias e Jornal Público que, perante a crise orçamental, encontram no ideário liberal algumas soluções para os problemas do País.

Estamos, contudo, ainda a dar os primeiros passos. Nisso, ninguém discorda de VM.

Agora, só posso ficar surpreendido com a convicção de VM que considera «balelas ficcionais» e fruto da imaginação do João Miranda a constatação, genericamente aceite - e que resulta, obviamente, da observação da realidade - que existe um claro domínio do pensamento de esquerda nas universidades, na cultura e nos media.

Até posso admitir que se discuta qual a intensidade actual deste domínio. Mas a afirmação do VM, de tão irreal, afasta-se do habitual bom-senso que imprime nos seus escritos, e da lucidez que faz dele uma referência obrigatória.

Acrescento que, a meu ver, a suposta «infidelidade liberal» existente à direita é bastante ténue, na medida em que os programas eleitorais dos partidos que supostamente pertencem a este quadrante político apenas a espaços subscrevem o ideário liberal.

Agora, este mesmo sentimento de «traição» não é monopólio liberal, colocando-se com mais frequência à esquerda, sendo até bastante habitual - sobretudo nos nossos dias - ouvirem-se desabafos sobre o que leva os governos de esquerda, quando chegam ao poder, a não serem «socialistas».

Caro VM, qual será a razão para este sentimento de «infidelidade socialista»?

Rodrigo Adão da Fonseca