1.9.05

DA FRONTALIDADE POLÍTICA

De entre os muitos defeitos que o Dr. Mário Soares terá revelado ao longo da sua extensa vida política, ninguém encontrará certamente o da falta de frontalidade. Foi frontal antes do 25 de Abril em relação a um regime ao qual se opôs com custos pessoais enormes, não deixou de o ser em 74 e 75 contra o PC, voltou a sê-lo na oposição ao eanismo, e, gostemos ou não das suas posições políticas, a verdade é que as tem sempre manifestado sem rodeios e com convicção.
Ontem, com 80 anos e quando já muitos o declaravam politicamente morto, voltou a sê-lo com uma clareza impressionante. De uma só penada, assumiu-se como o candidato da esquerda, reduzindo à inexistência quaisquer veleidades que nesse espaço pudessem surgir, e limitou o espaço presidencial sobejante à direita partidária. O Dr. Mário Soares nunca viveu de tabus, nem se deixou enfiar numa redoma de museu para contemplação e veneração dos curiosos e admiradores. Acresce que, com a autoridade de pai do regime em que vivemos, posicionou-se como o candidato que veio para o salvar, ou, se preferirmos, refundar, retirando esse eventual desígnio a outros eventuais candidatos.
Desde ontem, que o Prof. Cavaco Silva, caso queira candidatar-se a Belém, tem urgentemente de dizer o que quer e ao que vem. O tempo do seu tabu esgotou-se, sem que dele tenha tirado qualquer proveito visível.