30.9.05

Afinal os modelos são incertos, mas o protocolo é eficaz


Alguns leitores em vez de discutir a incerteza dos modelos, que é o tema deste post, resolveram dar mais importância a esta frase: «In the absence of climate mitigation policies, the 90% probability interval for warming from 1990 to 2100 is 1.7° to 4.9°C (19). »

Curiosamente, a questão da incerteza dos modelos foi suscitada por essa mesma previsão. A previsão já foi discutida aqui e aqui a propósito deste gráfico postado pelo Rui Curado. O que eu disse foi que, se a previsão é para levar a sério, então o protocolo de Quioto é inútil porque o seu efeito é desprezável quer quando o seu impacto é comparado com o valor absoluto da previsão quer quando é comparado com a incerteza da previsão. Dito de outra forma, se as previsões do IPCC forem levadas a sério, o protocolo de Quioto é uma aspirina que querem dar a um paciente que não se sabe muito bem o que tem, mas que tem certamente uma doença extremamente grave.

Em resumo: quando se discutiu a previsão, alguns leitores levantaram a questão da fiabilidade dos modelos dizendo que eles são fiáveis. Quando a fiabilidade dos modelos foi discutida, outros leitores resolveram levantar a questão da previsão. Mas se a discussão é mesmo para levar a sério, a eficácia do protocolo de Quioto tem que ser considerada tendo em conta a fiabilidade dos modelos e vice-versa. Não é através da escolha selectiva e casuística do que é relevante a cada momento da discussão que o problema do aquecimento global se percebe. As questões científicas têm que ser analisas à luz das questões políticas e vice-versa.



Quem quer reduzir a zero o aquecimento global e acredita mesmo que a única solução é a redução das emissões de CO2 tem que defender medidas verdadeiramente draconianas com consequências catastróficas para o crescimento económico, o emprego e o bem estar da sociedade. Mas normalmente estas são as mesmas pessoas que, e muito bem, aceitam viver em sociedades democráticas em que os governos são derrubados se a economia estagnar.

Há portanto duas soluções possíveis para o aquecimento global previsto pelo IPCC, a saber:

1. abandonar a democracia e impôr uma ditadura steam punk;

2. aproveitar o crescimento económico e os avanços tecnológicos daí decorrentes e confiar na capacidade das sociedades humanas para, em liberdade, se adaptarem às mudanças climáticas num cenário de incerteza.