26.9.05

Liberalismo e a Dicotomia Direita/Esquerda: o risco de se ser preso por se possuir um canídeo, ou por não o ter

Caro PPM,

Eu não tenho qualquer problema em ser identificado com a Direita, este «risco» não é algo que me tire o sono (ainda que, reconheça, não goste de ser conotado com o CDS-PP, não me levem a mal, mas não me revejo nesse partido).

A questão é de outra índole; desde que me sinto liberal que acho que o Liberalismo não é nem de Direita nem de Esquerda, embora concorde com os que argumentam que as ideias liberais são mais facilmente apreensíveis no campo da direita, porque neste quadrante político o indivíduo e o liberalismo económico estão (tendencialmente) melhor salvaguardados.

Penso, contudo, que quando se procura explicar o Liberalismo a partir de uma fragmentação da Direita e da Esquerda o resultado nem sempre é muito claro e esclarecedor. Não é uma questão de gosto; o que acho é que seguir esta via é arriscado, ou até infrutífero, acabando-se sempre a ensaiar compromissos e sínteses que o desvirtuam, e lhe retiram alguma da sua coerência e razão de ser. Talvez seja por isso que sintas algo enredado, preso por ter cão e preso por não o ter: nesse percurso de associação/assimilação da direita ao liberalismo, uns vão achar que a tua nova Direita é liberal de mais; outros, de menos. Mas tudo isto são leituras minhas, que certamente valem o que valem.

Penso que compreenderás que eu faça este tipo de leituras; a minha abordagem neste blog - na qualidade de cidadão anónimo empenhado, sem filiação partidária, estudante de ciência política, a quem a juventude concede ainda uma margem para o idealismo - é limitada, e tem como objectivo principal divulgar as ideias liberais de uma forma que tento seja clara, simples e acessível. Por isso parece-me normal que aqui se faça uma leitura das Noites à Direita à luz daquilo que é a nossa matriz, que é no fundo aquela que me interessa a mim e aos poucos que - concordando ou não - seguem aquilo que eu escrevo: uma visão liberal, sem compromissos, quase laboratorial, certamente, aérea; mas é este o meu core business, é aqui que exerço a minha função blogosférica.

Agora, sigo com interesse as vossas iniciativas, que incentivo e aplaudo, às quais me tenho juntado com a minha humilde participação e genuíno gosto; e, claro, obviamente, aceito que as Noites à Direita têm o seu posicionamento próprio, que é aquele que os seus promotores entenderam ser, nas suas perspectivas, o mais adequado. Não interpretes mal a referência que fiz aqui; aceita-a apenas como uma mera e insignificante contribuição para o debate.

Um abraço,
Rodrigo Adão da Fonseca