Correndo o risco de maçar os leitores do "Blasfémias", tomo a liberdade de re-publicar um texto de há meio ano atrás, sobre tópico que voltou a estar em foco recentemente.
ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS
1. Perfil esperado do Presidente da República.
O Presidente da República Portuguesa (PR), entidade máxima do Estado, não tem a incumbência de dirigir a governação, ao contrário do que sucede em outros países. O perfil esperado para a pessoa que ocupa o lugar não será então a de um perito em qualquer área técnica, mas antes o de uma pessoa dotada de: seriedade; honestidade intelectual; bom senso. As várias pessoas eleitas democraticamente nas últimas décadas preenchem este perfil.
2. Timing das candidaturas.
Existem exemplos que mostram que existem potenciais vantagens em apresentar a candidatura cedo. Depois de haver um candidato, todos os que se apresentam depois são seus adversários. O primeiro a apresentar-se não se apresenta contra ninguém, mas sim a favor de si próprio.
3. Sobre a determinação dos candidatos.
Convém que os candidatos a PR mostrem determinação em atingir tal posição. Sem prejuízo de existir igual dignidade nas pessoas determinadas e nas não determinadas, nos decididos e nos indecisos, a realidade é que a determinação é uma característica facilmente reconhecível pelo eleitorado. A determinação é um sinal de confiança. Os tempos são de molde a favorecer, para este efeito, as pessoas determinadas, decididas e confiantes. Não é provável que resulte eleito quem transmita a impressão de não ter a certeza de querer ou não o lugar.
4. Estratégia de candidatura.
Face aos resultados das recentes eleições legislativas (20Fev2005), não é difícil prognosticar que os eventuais candidatos, com intenções de disputar a eleição, tenham uma estratégia comum: a de se comprometerem formalmente no sentido de não dissolverem a Assembleia da República durante a totalidade do respectivo mandato. Não é provável que resulte eleito quem não se comprometa nesse sentido.
5. Conclusões.
O perfil do(a) candidato(a) ganhador(a) poderá ser o de uma pessoa séria, dotada de honestidade intelectual e de bom senso; que não receie apresentar a sua candidatura numa data relativamente precoce (de preferência, sendo a primeira candidatura da sua própria área política); que transmita uma ideia de determinação, decisão e confiança, ou seja, de que quer o lugar; que se comprometa a não promover a instabilidade política.
6. Posfácio. Não descer de divisão.
Estabelecendo um paralelo com o mundo desportivo, existem numerosas equipas que disputam campeonatos, não com o intuito de os ganhar, mas antes para não descer de divisão. Eventuais candidatos que não cumpram grande parte dos critérios acima referidos poderão, de igual forma, apresentar-se meramente para não "descer de divisão", ou seja, para sedimentarem posições políticas aproveitando a publicidade associada ao acto eleitoral.
José Pedro L. Nunes