7.9.05

O PARADOXO AMERICANO

O «Forum TSF» de hoje foi dedicado aos EUA.
A culpa do furacão que recentemente assolou parte do seu território foi, segundo a aguçada lucidez nacional, culpa do Sr. Bush, eterno responsável pelas tragédias do universo, espécie política do «mordomo» da Agatha Christie, sempre suspeito, sempre culpado.
Mas esta é já matéria pacífica e adquirida, sendo portanto marginal ao debate de hoje, que decorreu centrado no subdesenvolvimento americano, no atraso da sua civilização, na falta de cultura das suas gentes («nem sabem onde fica Portugal!», proclamava indignado e sarcástico um dos ouvintes).
Este anti-americanismo europeu tem boas e fundadas tradições. De Gaulle não suportava os americanos, Franco e Mussolini menos ainda, e Salazar, ao que consta, achava-os umas «crianças crescidas». Um pouco mais a leste, na saudosa URSS, também se depreciavam os norte-americanos, embora, neste caso, mais por precaução do que propriamente por convicção.
Contudo, o que ninguém parece estar disposto a explicar é porque estranha razão uma sociedade de gente inculta e subdesenvolvida conseguiu, em duzentos anos, construir a maior e mais rica potência do mundo. É certo que o território é generoso, mas outros países (como a própria e saudosa extinta URSS) também o são, sem conseguirem aproximar-se dos níveis de desenvolvimento americano.
Trata-se, assim de um «paradoxo americano»: gente estúpida e inculta a fazer um grande e desenvolvido país. Donde, há que retirar uma ilação doméstica: o governo deve pôr fim imediato aos programas de desenvolvimento do ensino que, como vemos, têm feito dos portugueses um povo culto e, infelizmente, atrasado e miserável. Do que precisamos todos, afinal, é de ser muito mais incultos e estúpidos do que já somos. Tal qual os americanos.