20.9.05

O Protocolo de Quioto tem efeitos mínimos no clima, parte 1345 B

Caro Rui Curado Silva,

1. A prova de que os cientistas não compreendem o clima, e, o que é mais importante, que não compreendem os fenómenos sociais por detrás das emissões de CO2, está no gráfico que apresenta. Se tudo estivesse totalmente compreendido e se não existissem dúvidas, o gráfico não teria erros associados superiores ao mínimo da variação de temperatura prevista. Mais, se não existissem dúvidas quanto aos dados empíricos que suportam os modelos, não existiriam tantos estudos de análise de sensibilidade como este.

2. O Rui usa um truque engraçado. Acusa-me de utilizar um gráfico que está desactualizado e apresenta outro mais recente. Só que o gráfico que o Rui apresenta não prova que Kyoto tem impacto significativo no clima. A principal diferença entre o gráfico que eu postei e aquele o Rui apresenta é ao nível dos cenários. O meu gráfico corresponde a um dos cenários originais propostos pelo IPCC designado por IS92a. O gráfico que o Rui apresenta corresponde aos novos cenários introduzidos pelo IPCC recentemente. As diferenças não se devem ao avanço dos conhecimentos sobre modelos, mas ao facto de os gráficos representarem cenários diferentes.

3. A multiplicidade de cenários representada no gráfico que o Rui posta ilustra bem a ignorância do IPCC em relação à evolução da economia mundial no futuro.

4. Não há razão nenhuma para se pensar que as conclusões que se podem tirar do gráfico que eu postei seriam radicalmente diferentes. Há aqui dois problemas que é preciso considerar:
4.1 - A existência de vários cenários implica que existe uma incerteza sobre qual será o verdadeiro ««Business as usual». Mas seja ele qual for, não há razão nenhuma para se pensar que o impacto de Quioto será significativo porque o aumento das emissões no futuro vai dar-se em países que não são afectados pelo protocolo.
4.2 - A incerteza quanto ao verdadeiro ««Business as usual» torna Quioto ainda mais inútil porque o impacto da solução é muito inferior à incerteza em relação ao problema. Quioto é como um aparelho de ar condicionado cuja potência é tão fraca que não consegue sobrepor-se às oscilações diárias de temperatura.

5. Eu não disse que o protocolo de Quioto não serve para nada. O que eu disse foi que não tem impacto no clima. Na óptica dos políticos, Quioto serve para fazer política. É por isso que Blair, que devo lembrar é um político e não um cientista, anda preocupado.

6. Se Quioto é um acordo assim tão bom e com um impacto significativo no clima, para que é que precisamos do Quioto II?

7. E já agora, se Quioto I está minado por problemas políticos, por que é que há quem tenha esperança que um protocolo ainda mais restritivo não tenha esses mesmos problemas políticos?

8. Como sabe, a China está neste momento a crescer a 9% ao ano e a India deve ter um crescimento de 6 ou 7%. O Brasil cresce a 5% ao ano. Este crescimento está associado a um crescimento idêntico de consumo de energia. A China será em breve o maior emissor mundial de gases de estufa e outros países paíse em vias de desenvolvimento não vão ficar muito atrás. Por isso, os problemas políticos de Quioto II vão ser ainda mais complicados que os problemas políticos de Quioto I pois nenhum destes países estará disposto a abdicar das suas emissões.