10.9.05

Re: PÓS-KATRINA

José Mário Silva diz que no Blasfémias se fez uma esforçada e contorcida tentativa de justificar o injustificável. Infelizmente, não explica exactamente o que é que se tentou justificar. E discutiu-se tanta coisa no Blasfémias na última semana, desde a responsabilidade individual à arquitectura do estado federal, passando pelas estatísticas de probreza e desigualdade.

É normal que o José Mário Silva não esteja muito interessado em discutir ponto por ponto cada um destes problemas, porque a superioridade moral da esquerda não a obriga explicar-se ou sequer a argumentar. Mas uma coisa eu garanto: não se fez no Blasfémias nenhuma «defesa esforçada» porque não foi necessário qualquer esforço. A esquerda, mesmo quando tem uma hipótese de ter razão sobre os Estados Unidos, perde-a logo a seguir, porque, ao projectar nos Estados Unidos os seus próprios preconceitos, acaba sempre a fazer acusações descabeladas a Bush e ao neo-liberalismo. A refutação desse tipo de acusações é fácil porque elas nada têm a ver com a realidade.

Nota: em Portugal, o debate entre a esquerda e a direita sobre os Estados Unidos ainda está para começar. Quando , por exemplo, Daniel Oliveira escreve no Expresso coisas do tipo:

[Nos Estados Unidos] O Estado não existe. Existe um Presidente e um exército. Como em qualquer país do Terceiro Mundo.


ou:

O american dream é afinal um pesadelo. Os números da Nações Unidas [sobre os Estados Unidos], publicados esta semana, são assustadores.


ficamos a saber que a esquerda não discute os Estados Unidos, mas uma ficção criada para se adaptar a preconceitos ideológicos.