Tenho lido que os EUA são um pais de terceiro mundo, inundado em pobreza, com uma incapacidade brutal de reagir perante as dificuldades.
Conheço bem os EUA, pelo que fico estupefacto com a imagem que se está a passar daquele que é o país mais desenvolvido do mundo.
Existe certamente pobreza na América. Ineficiências, também. Aliás, nada que um furacão do tamanho do Katrina não ajude a desvendar.
Só que pobreza e ineficiências existem em todo o mundo.
A América, é sabido, tem uma fasquia particularmente crítica, de uma pobreza não muito distinta daquela que existe em Portugal, e que vive em alguns Estados apenas de subsídios, noutros, em situação de indigência; os indicadores de Saúde Pública são cronicamente negativos na fasquia mais baixa da população, muito piores do que em Portugal (embora tenha dúvidas que em Portugal alguns grupos sociais - cujas características são equivalentes às dos grupos mais baixos dos EUA - estejam a contribuir para as estatísticas, pois muitos deles nem «existem» no nosso país); há ainda uma pobreza que é «importada»: aos EUA, anualmente, acorrem centenas de milhares de emigrantes, muitos deles pobres de outras regiões, em busca das oportunidades que não existem nos seus países de origem. À América ruma muita da pobreza de todo o planeta; os EUA são o maior país de acolhimento do mundo, o que faz com que, a cada momento, exista pobreza nos EUA, que antes era «contabilizada» nos indicadores de pobreza dos outros países. Pensem, por exemplo, no que representa, nas sociedades insulares de língua portugesa - Madeira, Açores e Cabo Verde - a emigração para os EUA.
A América é, contudo - ao contrário daquilo que por este Portugal se escreve - o país da Liberdade, onde mais facilmente é reconhecido o mérito, onde mais gente se orgulha de ter sido «self made», vencido na vida pelos seus próprios meios. Onde quem imigra aspira ao American Dream.
Desigualdades, existem em todo o planeta. A diferença está no modo como a encaramos. Existe uma anedota - não me lembro onde a ouvi, perdoem-me por isso - que fala por mil teses:
«Um americano pobre vê passar um ricaço de Ferrari e pensa: ainda vou ter um para mim. Um europeu remediado vê um ricaço a passar de Maserati e pensa: ainda vais andar a pé».
Por isso podemos vasculhar em busca dos seus defeitos - que não os tem? Mas quem o faz - sobretudo de uma forma radical e quase com espírito de missão - para mim, acaba a fazer uma triste figura, porque, de que adianta apontar ao vizinho uma nódoa que tem nas calças, se as nossas estão rotas?
Vejamos, a este título - e como está na moda linkar notícias sobre os EUA- uma notícia de ontem - não uma crónica de um democrata qualquer citado só porque é estrangeiro e tem uma coluna num pasquim - mas daquele que é, actualmente, o melhor e mais sério jornal diário português, o Diário Económico:
«(...)
Entre as dez melhores universidades do mundo encontram-se oito instituições americanas e duas britânicas. Portugal ocupa um modesto 472º lugar, entre 500 classificadas, com uma única representante: a Universidade de Lisboa. A primeira classificada é a Universidade de Harvard, seguindo-se no pódio a Universidade de Cambrigde e a Universidade de Stanford. A lista foi elaborada por investigadores da Universidade Jiao Tong de Xangai, na China, pelo terceiro ano consecutivo e publicada na revista Higher Education in Europe, do Centro Europeu para o Ensino Superior da Unesco.
(...)
O continente americano lidera a lista das 20 melhores universidades, com 17 instituições, enquanto que a Europa conta com apenas duas.
(...)
A distribuição por países mostra que apenas 35 estados contam com universidades entre as 500 melhores do mundo. Os Estados Unidos dominam a lista com 170 representantes, seguido da Alemanha (43), Reino Unido (42), Japão (36), Itália, Canadá e França, com mais de 20 cada um.
(...)».
Talvez isto explique muita coisa sobre o sucesso da América e um certo anti-americanismo de algumas «elites» europeias que não gostam do fenómeno da concorrência.
Rodrigo Adão da Fonseca