Ontem, tive que aguentar o discurso de um ferrenho lutador anti-cavaco, uma sequência interminável de argumentos rebuscados sobre a necessidade do futuro presidente não poder saber patavina de economia. Os lugares comuns do costume sucediam-se em catadupa, sem espaço para contraditório. Temos que ter na presidência um homem da cultura, um anti-economicista que trave os ímpetos mais selvagens dos ministros das finanças, alguém que represente valores humanistas, que impeça as privatizações, alguém para quem as pessoas não sejam números, alguém que toque piano e fale francês.
Tudo isto vem de um tipo que é uma excelente pessoa, mas que acredita que o crescimento económico é mau porque faz mal à ecologia e cria desigualdades, que o défice é um conceito subjectivo e que o bem estar se cria por decreto. Acredita também que Hugo Chavez e Evo Morales são os expoentes da evolução humana e que qualquer um dos candidatos em compita serve para presidente, menos Cavaco Silva, porque é economista.
A teoria que espalha com convicção e esperança na segunda volta é "Votar num qualquer agora e no que for à segunda volta, a seguir".
Compreendo a esquerda que prefere e promove a ignorância em economia. É que Cavaco sabe fazer contas. Dos outros...
Há um que não sabe, orgulha-se por não saber, detesta quem sabe e, com a idade que tem, já não se espera que aprenda nada de novo.
Há outro que pensa que sabe fazer contas e até se diz doutor na matéria, mas continua absolutamente enganado sobre as parcelas.
Há o candidato Jerónimo para quem a matemática é inimiga do povo.
Há ainda um candidato que só faz contas abaixo de 1 por cento.
E por fim, o candidato para quem as contas são indignas da pátria, a bandeira não pode dividir, ser solidário não é uma subtracção e o vento que passa eleva a esperança de vestir Belém ao quadrado.
À esquerda não se aproveita nada. Resta um, com juízo. Haverá outra escolha sensata?