Numa economia, os preços sinalizam a escassez ou a abundância dos factores de produção que as empresas utilizam para produzir bens e serviços para os consumidores. Quando os preços de um factor de produção sobe é porque esse factor se tornou relativamente escasso.
Ora, toda a gente sabe que o preço da energia tem estado a subir e que isso se deve a uma relativa escassez de combustíveis fósseis. Mas os grandes industriais portugueses não vão saber da notícia. É que o ministro da economia resolveu criar uma realidade virtual para os industriais portugueses congelando-lhes o aumento da electricidade. Os industriais portugueses ficam assim a "saber" que está tudo bem no mundo da energia e que não é necessária nenhuma adaptação à escassez de combustíveis fósseis. E não vão perceber por que é que os industriais estrangeiros se andam a adaptar a um mundo onde a energia será bem mais escassa.
O Ministro da Economia parece que tomou a medida em nome da competitividade da economia portuguesa. Não se percebe. Será que o Ministro da Economia descobriu petróleo debaixo da casa do Almeida Garrett? É que se não descobriu, não se percebe. Todo o petróleo que entra em Portugal continua a ser pago pela economia portuguesa. De certeza que os espanhóis não vão querer pagar a diferença entre aquilo que as empresas deviam pagar e o que vão pagar. Se os espanhóis não vão pagar, então quem paga é sempre a economia portuguesa. Se não forem os grandes industriais serão outros agentes económicos. Sejam quem forem, serão agentes económicos portugueses com contribuição para a economia portuguesa.
Esta medida do Ministro da Economia, tal como o congelamento do preço dos combustíveis por Pina Moura nos tempos do guterrismo, tem dois efeitos:
- um, de transferência de de subsídios entre agentes económicos cujo efeito global é nulo;
- outro, de criação de uma realidade virtual cujo efeito global é negativo.
A soma destes dois efeitos é negativa.
