19.1.06

O comércio, essa coisa incompreensível

Sérgio Figueiredo escreve hoje escreve hoje no editorial do Jornal de Negócios:

As renováveis, como a nuclear, só de raspão tocam na dependência petrolífera e na riqueza que, por esta via, transferimos para os países produtores. Coisa pouca, dava para construir um aeroporto da Ota todos os anos.


Há nesta passagem um erro de base. Uma transação comercial só ocorre se se verificarem duas condições:

1. o comprador prefere o produto transacionado ao dinheiro

2. o vendedor prefere o dinheiro ao produto transacionado

No caso do petróleo, só existe importação de petróleo porque:

1. os portuguese acreditam, consistentemente e ano após ano, que o petróleo vale mais que o dinheiro que se paga por ele;

2. os exportadores acreditam, consistentemente e ano após ano, que o dinheiro vale mais que o petróleo.

Ora, se para os portugueses o petróleo vale mais que o dinheiro que se paga por ele (caso contrário ficariamos com o dinheiro), numa importação de petróleo, e em termos líquidos, é transferida riqueza para Portugal. Mais, caso se pretenda substituir pela força da lei e do subsídio o petróleo importado por energia produzida internamente, Portugal perde a mais valia para o país que é a importação de energia.

Nota: a razão pela qual os portugueses estão dispostos a pagar ao estrangeiro petróleo que lhes custa uma Ota e um TGV é só uma: esse petróleo vale mais que a Ota e o TGV.