9.1.06
O mito da (in)dependência energética
A imagem mostra os gasodutos que abastecem a Europa. Clicar para ampliar.
1. Existem vários fornecedores à rede de gasodutos que abastece a Europa: Rússia, Argélia, Noruega, Iraque e ex-repúblicas soviéticas.
2. Em grande parte dos casos, existem pelo menos dois percursos alternativos ao transporte de gás para a Europa pelo que nenhum país tem o monopólio do transito de gás.
3. Quando não existe um percurso alternativo construído, a mera possibilidade de construção tem um efeito dissuasor sobre os países que pretendam aproveitar a sua posição estratégica para cobrar preços mais altos.
4. O gás pode ainda ser colocado na Europa de barco. Mais de 50% do gás natural que se consome em Portugal chega cá de barco.
5. Os países da União Europeia estão em rede pelo que se um país for vítima de pressão por parte de um produtor, os outros países poderão abastecê-lo.
6. O preço de mercado do gás natural é ao mesmo tempo o preço a que o estado produtor está interessado em vender e o preço a que o estado consumidor está disposto a comprar.
7. Segue-se que o produtor não pode usar o gás natural como arma política sem que para isso tenha que pagar um preço. Da mesma forma que o consumidor depende da energia do produtor, o produtor depende do dinheiro do consumidor.
8. Se a Rússia tentar bloquear o gás que abastece a União Europeia, a União Europeia limitar-se-á a cortar os pagamentos à Rússia passando a usar abastecer-se noutros mercados. A Rússia teria que reconverter toda a sua indústria para vender energia a outros clientes.
9. A construção de gasodutos pelos produtores é uma garantia adicional de fiabilidade dos fornecimentos. Nenhum produtor investirá num gasoduto do qual não pretende tirar lucro.
10. A União Europeia tem todo o interesse em manter as alternativas ao gás Russo no campo das possibilidades. Enquanto essas alternativas forem meras possibilidades, a Rússia tem todo o interesse em manter fornecimentos fiáveis. Se essas alternativas se concretizarem prematuramente, a Rússia tem todo o interesse em tratar a União Europeia como o inimigo. A União Europeia não tem nenhum interesse em ter inimigos.
11. Os gasodutos são uma garantia de paz e estabilidade porque nenhum país está particularmente interessado em quebrar aquilo que é uma relação de dependência mútua.
12. Claro que os países produtores podem embarcar em fantasias políticas. Mas a decisão de tomar medidas de dissuasão prematuramente com base nas nossas próprias fantasias sobre as fantasias dos outros não é uma estratégia racional nem eficiente. As armas de dissuasão só funcionam enquanto não forem utilizadas.