11.1.06

Os limites da tecnocracia

Escreve a Joana:

Questões técnicas complexas, que envolvem estudos de tráfego, engenharia, avaliação financeira e económica, estudos ambientais e o planeamento a longo prazo das infra-estruturas de um país, não podem ser dirimidas em referendo. Nós, quando elegemos os nossos representantes, confiámos na capacidade de julgamento deles para tomarem decisões.


Esta tese da Joana tem vários problemas:

1. A decisão de fazer a Ota e o TGV é política. Foi óbvio para toda a gente que o Ministro Mário Lino tomou a decisão e depois foi à procura de argumentos técnicos para a justificar. E encontrou-os, como teria encontrado argumentos para justificar o contrário.

2. A Ota e o TGV não são o resultados de necessidades técnicas mas das fantasias políticas daqueles que acreditam que o estado é o motor do desenvolvimento.

3. Não existem questões puramente técnicas. Se as questões públicas se resumissem a decisões técnicas seriamos melhor governados por técnicos. Mas as questões públicas vão muito para além das questões técnicas. Os técnicos podem dizer-nos o que acontecerá ao tráfego da Portela, ou qual será o custo e o impacto da Ota. Mas não nos podem dizer que investir na Ota é melhor que baixar os impostos ou que construir hospitais porque essas questões dependem das preferências individuais de cada cidadão.

4. A questão da Ota é essencialmente política. Quem a considera exclusivamente técnica é porque já fez uma opção política. Optou por considerar que numa sociedade não existe diversidade de preferências (um erro técnico) para concluir que devemos ser governados por técnicos (uma má opção política). É a tese de Cavaco Silva, para quem duas pessoas de boa fé com a mesma informação técnica têm obrigatoriamente que concordar.