Ontem, no Prós e Contras, um tal Medina Carreira veio outra vez enfadar a plebe, exibindo uns quadros cheios de rectângulos obtusos e linhas tortas às cores que, segundo ele, servem para demonstrar que Portugal está na senda de inviabilidade e que, se o estado social não engatar a marcha-atrás e cortar na despesa pública, vai à falência.
É claro que aquilo é só conversa e quem percebe realmente destas coisas sabe que o essencial é calar o Medina de uma vez por todas, como muito bem se pode ler aqui:
«Quanto a Medina Carreira aproveito para suplicar a José Sócrates para lhe arranjar um qualquer cargo, enquanto o homem se entreter poupa-nos as suas desgraças.»
Muito bem. Se não forem os sindicalistas e os funcionários públicos a retratar devidamente o tal Medina, mais ninguém o faz. O estado somos nós, a despesa pública é o fundamento do estado pós-moderno e é óbvio que Portugal não se pode desenvolver sem mais investimento do estado, sem mais gastos sociais e sem emprego público.
O que já está provado e comprovado, é que a aritmética é nociva para a nação, a estatística atormenta o nosso futuro e esse tal Medina usa e abusa destas operações de soma e subtracção anti-sociais para dividir o povo e multiplicar a mensagem neo-liberal.###
Como se já não bastasse o uso sinistro das contas de somar para investir contra as despesas do estado, agora recorrem cada vez mais a know-how anti-social, que se caracteriza pelo uso sistemático de casas decimais num sentido reiteradamente anti-progressista e com o objectivo evidente de descredibilizar a governação moderna.
Temos que pôr cobro a isto. É óbvio que Portugal só tem dois caminhos.
Um é o caminho dos profetas da desgraça, esta praga de tipos que têm a mania de fazer contas, somam alíneas com despesas e tentam convencer-nos que que sabem os totais, esgrimem conceitos políticos suportados em horríveis quadros com muitos algarismos, utilizam expressões esotéricas como défice, pibe, saldo orçamental ou dívida pública, atiram-nos à cara com dolorosas percentagens neo-liberais e são useiros e vezeiros em pôr o sinal menos à frente de números só para dizer que está mal.
Outro caminho é continuar a construir o Estado Social, um conceito desenvolvido a partir de vontades, desejos e anseios dos cidadãos e que não precisa para nada do contributo da matemética economicista. O Estado Social solidifica-se na criação do sublime e não através de taxas, algarismos, contas, gráficos e outras entidades abstractas que só perturbam a desejada evolução.
Esta última opção é a correcta e é a que garante que os nossos filhos poderão viver amparados num verdadeiro estado protector, sem serem obrigados a arriscar a sua existência em prol de uma sociedade feroz. Nenhum pai deseja que os filhos suportem as angústias do risco do radicalismo liberal do deve e do haver.
Quem pretende ter um país livre de constrangimentos finaceiros e do horror económico, tem que emudecer de vez os agoireiros da calamidade que gritam que o estado não vai ter dinheiro para nos pagar a reforma, como se o dinheiro fosse coisa tangível e não aquilo que realmente é, um estado de espírito.
Que ninguém fique com dúvidas: se queremos as nossas reformas, deixem de dar voz a cromos que decoraram a tabuada quando eram crianças. Calem o Medina Carreira. E deixem de ensinar a matemática nas escolas, de uma vez por todas.