31.5.06

Avaliação dos professores pelos pais

Os dentistas são avaliados pelos clientes, os médicos do sector privado são avaliados pelos clientes, os jornalistas são avaliados pelos clientes, os restaurantes são avaliados pelos clientes, os advogados são avaliados pelos clientes, as escolas privadas são avaliadas pelos clientes ... Pelos vistos só os professores das escolas públicas é que não podem ser avaliados pelos clientes, ou seja por aqueles que pagam os impostos que por sua vez pagam os salários.
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É curioso verificar que contra a avaliação dos professores pelos pais conspiram duas doutrinas aparentemente antagónicas, a dos filhos do Rousseau para quem toda a avaliação é autoritária, e a dos saudosos do estado novo, para quem a autoridade do professor só se mantém se não for questionada nem avaliada.

Há três equivocos nesta história. Em primeiro lugar, parte-se do princípio que os professores são entidades etérias fora da realidade. Em segundo lugar parte-se do princípio que os professores são autoridades inquestionáveis por direito divino. E em terceiro lugar, parte-se do princípio que o professor que ensina tem necessariamente que ser o professor que avalia. Ora, um professor só terá os incentivos certos para desempenhar bem o seu papel se for visto como uma pessoa real que tem que ensinar pessoas reais para servir clientes reais, se a sua autoridade for conquistada graças ao seu esforço em satisfazer as necessidades dos seus clientes e se não for ele próprio a avaliar os seus alunos.

Os que defendem que os pais não devem avaliar os professores porque a avaliação põe em causa a autoridade do professor terão de explicar de onde vem a autoridade do professor. Quem lha conferiu e por que motivo essa autoridade os deve tornar imunes à vontade daqueles que são os clientes do ensino e que pagam os salários dos professores? Dado que o direito divino passou de moda e dado que vivemos numa sociedade aberta em que tudo é questionável e em que a autoridade tem que ser conquistada e reconhecida pelos pares e pelos clientes vai ser um bocado dificil identificar uma fonte da autoridade do professor que não seja a satisfação dos seus clientes.


Os que defendem que os pais não devem avaliar os professores porque se o fizerem estarão a condicionar as notas dos alunos partem do pressuposto que o professor que ensina deve ser o professor que dá as notas. Ora, o professor que avalia os seus próprios alunos está a avaliar em causa própria. A avaliação que conta deve ser a avaliação externa, por exames. Se assim for, nenhum pai terá interesse em penalizar um professor por causa das notas. Terá sim interessem em penalizar um mau professor que não ensina.

Finalmente, acho bem que sejam contra a avaliação os que acham que o professor está envolvido numa relação de ensino/aprendizagem observando o educando seguir os seus instintos e dando-lhe espaço para que ele o faça (afinal ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção). Temo só de pensar no tipo de avaliação que estes senhores poderiam defender se fossem a favor.