11.12.06

é de um facínora que se trata


Ele foi o maior déspota da história de Portugal e se o seu despotismo vier algum dia a ser excedido, provavelmente não será pelo de outro homem mas pelo despotismo da maioria. Ao analisar a vida e a obra política do Marquês de Pombal, eu fico às vezes na dúvida se este homem não teria em mente um plano deliberado para tornar Portugal um país de servos, pobretanas e alarves.###

Não existe homem na história moderna de Portugal que mais tenha contribuido para matar todo o espírito cívico, toda a possibilidade de instituições livres, do que o Marquês de Pombal. E, passados dois séculos e meio, todos os resultados da sua acção continuam aí como um legado de que a sociedade portuguesa parece não conseguir jamais libertar-se.

Foi ele que instituiu a censura do Estado. Foi ele que encerrou uma das duas Universidades existentes no país (Évora) e submeteu a outra (Coimbra) ao controlo do Estado, o que, para ele, significava o seu controlo pessoal. Ele perseguiu todos os que eram ricos e inteligentes (os jesuítas, por exemplo, juntavam as duas condições), deixando apenas vivos no país os pobres e os atávicos. Foi ele que submeteu todo o ensino ao controlo do Estado. Foi ele que tornou Portugal o reino das licenças, dos alvarás e das autorizações do Estado. Foi ele ainda que deu respeitabilidade a essa grande fraude intelectual, castradora de toda a actividade cívica, que é o Direito Administrativo.

Pelo caminho, mandou executar metodicamente todos os seus adversários políticos, incluindo as mulheres e os filhos, num total de mais de três mil. Pois é este facínora - porque, na realidade é de um facínora que se trata - que destruiu por completo todo o espírito cívico da sociedade portuguesa, não apenas para o seu tempo, mas provavelmente, para sempre, que os portugueses celebram como um grande estadista, dando o seu nome a qualquer praça central de qualquer uma das maiores cidades do país.