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Não fossem as privatizações efectuadas depois do governo de Allende, as políticas de abertura comercial ao exterior e a liberdade de comércio implantada no país pelos «Chicago boys», e o Chile não se teria transformado na mais próspera economia da América do Sul, com uma redução da pobreza dos 39% para os 20% e com elevados níveis de escolaridade, coisa rara nesta região.
Sendo certo que as ditaduras e o desenvolvimento não co-habitam por muito tempo, a fortíssima classe média que o liberalismo económico gerou no Chile, exigiu o que lhe faltava: a liberdade política. Foi por isso e só por isso, pela forte pressão de uma opinião pública socialmente desenvolvida, que Pinochet se viu forçado a aceitar a realização do referendo que o afastou do poder.
Se o ditador estava consciente que ao liberalizar a economia estava a condenar o seu próprio regime, já é outra conversa. Provavelmente, como muitos outros socialistas, também Pinochet pensava que o liberalismo se esgotava no campo da Economia. Enganou-se.
Texto publicado originalmente no Portugal Contemporâneo.