5.1.07

Ainda o «Luz do Sameiro»

Sobre o sucedido na praia da Nazaré publicou ontem, no PÚBLICO, um texto o presidente da Associação Comercial do Porto, Rui Moreira. Aí se chama a atenção para boa parte das razões deste e doutros naufrágios:

«As autoridades exercem uma apertada e burocrática fiscalização sobre as condições de navegabilidade dos barcos de pesca e de recreio, mas as tripulações não são formadas nem treinadas para lidar com situações de risco. Por outro lado, com a crise do sector, os pescadores arriscam cada vez mais para capturarem espécimes valiosos como o robalo, que prefere as águas batidas e pouco profundas.
Todos esses factores contribuíram para que tivessem morrido mais seis pescadores num naufrágio. Só que como tudo aconteceu de dia, com condições meteorológicas razoáveis, a poucos metros da costa e à vista de muita gente, percebeu-se que a dimensão da tragédia foi ampliada pela inépcia dos meios de socorro. Sabe-se que depois de ter sido alertada pelo navio e por uma testemunha, a capitania perdeu quarenta e cinco minutos a "tirar teimas" e outro tanto para chamar os bombeiros e a Polícia Marítima, que chegaram à praia sem meios de salvamento. Finalmente, a capitania decidiu chamar um helicóptero, que chegaria tarde, três horas depois do primeiro SOS, já depois do salva-vidas dos "Socorros a Náufragos" ter sido incapaz de encostar ao navio encalhado, tal como acontecera há meses em Leixões, no naufrágio de um iate espanhol que causou duas vítimas mortais.
(...) Por que é que os altos comandos da Marinha, que tanto se empenham em meios para os "War Games", nunca se interessaram em criar um serviço de busca e salvamento com meios capazes? Como é possível que o Instituto de Socorros a Náufragos não tenha chefias autónomas, encerre durante a noite e só disponha dos lentos e velhos salva-vidas movidos a hélice, quando há vinte anos se usam lanchas com propulsão a jacto e com amura pneumática, que podem aproximar-se dos navios acidentados sem correrem o risco de se emaranharem (em redes, aprestos ou cabos) ou de colherem os tripulantes que caiam ao mar? Senhor Ministro da Defesa, se ler este SOS antes de ouvir os almirantes explicar que tudo se deveu à imprevidência dos pescadores e ao azar, espreite o site www.rnli.co.uk para perceber o que fizeram os ingleses e o que se deve fazer em Portugal.»


Ps - Na edição de ontem o DN revelava em primeira mão o conteúdo dos relatórios que a Força Aérea Portuguesa (FAP) e a Marinha enviaram ao ministro da Defesa. As fontes castrenses do DN trabalharam bem. Tão bem que no meio do texto se lê este naco de prosa: «Independentemente do que o processo de averiguações - e eventuais processos de inquérito ou disciplinares, em caso de falhas dos militares - vier a revelar, já é possível saber que as circunstâncias factuais do acidente e o modo de funcionamento do sistema de busca e salvamento (rede de satélites, meios aéreos e navais) tornavam praticamente impossível acudir mais depressa ao local, disseram ao DN fontes castrenses.» Ora se já é possível saber que as «condições factuais do acidente» tornavam impossível actuar doutro modo nada mais há para averiguar, pois não?