Caro jcd,
- Em qualquer movimento abrangente e ideologicamente transversal é natural que existam slogans infelizes e companhias com as quais não sonharíamos sequer poder vir a ser vistos - é a vida...
- Nesta Europa Social em que estamos, sistemas públicos como o SNS fazem parte da realidade; podemos não concordar com ela, sugerir alternativas; mas o que não me parece razoável é tentar negar esse facto fazendo finca-pé a partir do caso da IVG;
- Eu também discordo da lógica do SNS, mas esse combate é de longo fôlego e não devemos confundir aquilo que agora está em cima da mesa promovendo, inconsequentemente, a mudança total e imediata do sistema - i.e. fazendo o jogo cínico dos que querem a punição criminal da IVG a todo o custo (a gente do Não que, certamente não o duvidarás, é também esmagadoramente a favor do SNS público e ultra-garantido);
- Caso venhas a decidir votar SIM estarás a fazê-lo num referendo a favor da despenalização da IVG - e não a exigir, fora do tempo e do lugar, de supetão, a mudança radical do sistema estatal de saúde;
- Caso prefiras votar NÃO estarás a deixar tudo como dantes - sendo que as excepções agora (e então) legalmente permitidas continuarão a ser feitas na lógica do SNS, ou seja, pagas integralmente pelo dinheiro dos contribuintes;
- Do ponto de vista liberal, mais concretamente sob o prisma da utilização dos dinheiros públicos, a realidade pouco muda em qualquer uma das situações - o SNS continuará a existir, a funcionar mal e a privilegiar meia dúzia de bichos-da-fruta do sistema;
- Aquilo que realmente pode mudar, e muito, caso o SIM venha a ganhar é o fim de uma medonha hipocrisia social que prefere que uma lei não seja aplicada desde que quase não se fale nisso, que leva ritualmente a Tribunal 1 ou 2 casos por ano para aliviar a má-consciência e finge desconhecer as milhares de mulheres que, por razões financeiras ou outras, não conseguem ir ali ao lado, a Espanha, fazer em segredo aquilo que quase só aqui é considerado crime...