12.4.04

QUASÍMODO



Quando, segundo Mateus, Jesus foi a Getsemani orar, «começou a entristecer-Se e a angustiar-Se muito». E disse: «A minha alma está numa tristeza de morte; ficai aqui e vigiai comigo. E adiantando-Se um pouco mais, caiu com a face por Terra, orando e dizendo: "Meu Pai, se é possível passa de Mim este cálice; todavia, não seja como Eu quero, mas como Tu queres". Voltando a ter com os discípulos encontrou-os a dormir, e disse a Pedro: "Nem sequer pudestes vigiar uma hora comigo! Vigiai e orai para que não entreis em tentação: o espírito está cheio de ardor, mas a carne é fraca". De novo, pela segunda vez, foi orar dizendo: "Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que Eu o beba, faça-se a tua vontade"! Voltou depois e novamente os encontrou a dormir, pois os seus olhos estavam pesados. Deixou-os de novo, e foi orar pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras. Reunindo-se então aos discípulos disse-lhes: "Dormi agora e descansai, já se aproxima a hora e o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos; já chegou aquele que vai entregar-Me»

Findo o período pascal, terminada a Quaresma com a cruxificação e ressurreição de Cristo, regressamos ao tempo comum.
Os símbolos, na sua polivalência, ficaram para trás e, como quase sempre, pouco ou nada aprendemos com eles.
A Paixão dá-nos razões para a razão meditar e aprender, e para regressarmos a uma humanidade que a via do quotidiano nos afugenta e faz relegar.
Na morte de Cristo encontramos o destino do Homem. Na sua inevitabilidade e na consciência do fim do Seu tempo, a dimensão trágica da vida. No isolamento e na Sua dor, a certeza de que o destino e o tempo de cada um só a si pertencem, e que, mesmo acompanhados por multidões, as horas difíceis, os momentos derradeiros não se podem partilhar senão connosco mesmos.
A relação do Homem com a morte, a sua morte, humaniza-nos e dimensiona-nos. E faz-nos viver.