24.1.05

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Após ter anunciado a intenção de reduzir em 75.000 o número de funcionários da administração pública, José Sócrates prontificou-se a serenar os espíritos garantindo que «não haverá despedimentos» e que tudo será feito sem melindres.
O PSD, a quem ninguém ainda se lembrou de perguntar onde estão os resultados da anunciada macro reforma do sector promovida pelo talentoso Professor João de Deus Pinheiro, evita cuidadosamente o assunto, embora não seja difícil de adivinhar que, confrontado com ele, responderá coisa parecida, ou seja, que «não haverá despedimentos, embora a reforma seja inevitável». Garantia que, de resto, o próprio Prof. Pinheiro já dera e que, como se vê, pelo menos na primeira parte cumpriu escrupulosamente.
O mesmo foi dito pelo Dr. Pires de Lima, em nome do CDS, para quem o que importa é «melhorar os serviços» e não despedir seja quem for.

O que é facto é que, pelas contas dos nossos políticos, ainda ninguém sabe ao certo qual é a dimensão e a utilidade do «monstro», segundo o espressivo epíteto do Prof. Cavavo Silva, embora todos o temam e receiem as consequências eleitorais de o enfrentar. Se, na verdade, são mais de 700.000 os seus dependentes directos, imagine-se quantos votos não representa esta imensa mole humana se a ela associarmos os agregados familiares nucleares. Por isso, falar a tanta gente em despedimentos sem especificar onde, quem e quando, é ideia que não passa pela cabeça de um político com ambições. Despedi-los, efectivamente, menos ainda, mesmo que se tratem de postos desnecessários ou que sejam trabalhadores incompetentes que estejam a dar prejuízo ao Estado. Essas coisas dos despedimentos, das falências e dos prejuízos financeiros são próprias da empresa privada que só se move por baixos interesses de lucro. No Estado, movido somente por elevados critérios de interesse público, essas questões de baixa política não se põem, porque felizmente pode haver défice de 3, 4, 5 ou 6%, sem que se corra o risco de despedir alguém ou de «fechar a loja». Um dia, alguém o há-de pagar.