6.6.05

Demagogia muita, resultados zero

1. Por causa do caso Campos e Cunha, Sócrates resolveu acabar com as acumulações: Sócrates anuncia lei para acabar com acumulação de vencimentos e reformas

2. Primeiro resultado prático: os cargos políticos ficaram ainda menos apetecíveis. A qualidade dos políticos vai baixar ainda mais. A política ficará para os espertos.

3. Segundo resultado prático: o Ministro das Finanças vai ganhar menos como ministro do que ganhava enquanto professor catedrático. Tem um excelente incentivo para se ir embora do governo o que só pode contribuir para ele se estar nas tintas para tudo isto.

4. Terceiro resultado prático: o sistema de reformas do Banco de Portugal por enquanto fica na mesma.

5. Quarto resultado prático: os instintos justicialistas vão acalmar por uns tempos. Até à próxima.

6. Quinto resultado prático: nada de fundamental ficou resolvido e mais cedo ou mais tarde estas medidas serão compensadas por outras ainda mais obscuras.

7. Vejo que o Rodrigo concorda com o princípio exposto neste post, que mais não diz do que uma banalidade: o que deve ser analisado é o pacote remunerativo total e não a reforma. Não fiz nenhum juízo de valor sobre o pacote remunerativo da administração do Banco de Portugal. Disse apenas como é que as contas devem ser feitas.

8. O Rodrigo diz que provavelmente não existem empresas privadas que atribuam ao seus administradores reformas vitalícias ao fim de um mandato, na ordem dos oito mil euros. De acordo.

9. Só que nenhuma grande empresa paga salários tão baixos como o Banco de Portugal e enquanto não for feita uma comparação global dos pacotes remunerativos eu não fico convencido que a reforma de Campos e Cunha é assim tão alta como nos querem fazer crer.

10. Sobre a transparência: as remunerações da função pública e similares são aprovadas pelos governos e nada é feito em segredo. Fica tudo publicado no Diário da República. O sistema remunerativo do Banco de Portugal foi aprovado pelo Sousa Franco enquanto ministro das finanças de um governo eleito. Ou seja, foi aprovado pelos representantes do accionista-eleitor e parece que ninguém se importou muito com isso. O Ministro das Finanças está inocente.

11. Esta polémica já dura há 3 dias e ainda não vi ninguém defender a revisão do sistema remunerativo da administração do Banco de Portugal.

12. Como o Rodrigo explica num dos comentários, o valor dos salários dos gestores depende da capacidade dos accionistas para imporem a sua vontade, e esta capacidade da dispersão do capital. O Rodrigo acrescenta que o accionista pode sempre vender as suas acções se achar que os gestores recebem mais do que merecem.

13. Acontece que numa democracia o capital está disperso por milhões de eleitores e estes têm muitos outros motivos para não mudar de país. Logo, um país não é uma empresa. Tem problemas muito mais complexos que os problemas de uma empresa.

14. Acontece ainda que a boa doutrina manda que os Bancos centrais sejam independentes dos seus accionistas. Ou seja, o sistema é deliberadamente concebido para que os accionistas não possam interferir nos rendimentos da administração. Exactamente o contrário do que a boa doutrina manda que se deva fazer nas empresas.

15. Segue-se que o sistema de reformas vitalícias não é mau de todo porque garante logo à partida a independância financeira dos administradores em relação ao governo. Pelo menos os administradores não têm motivos financeiros para trabalhar para a renovação do mandato agradando ao governo do dia. (Campos e Cunha reformou-se do Banco de Portugal porque Manuela Ferreira Leite em 2002 não lhe renovou o mandato).

16. Alan Greenspan recebe 180 mil dólares por ano. Ganha mal e porcamente e devia ganhar mais. Quem tem as responsabilidades de Greenspan devia ganhar muito mais. Aliás, Greenspan devia ter o seu salário indexado ao inverso do preço do ouro cotado em dolares.

17. Alguns leitores sugeriram que os políticos deviam andar lá por carolice. Ou até que a competância é dispensável. Ou que os políticos deviam andar lá pelo serviço público. Pois eu aproveito para divulgar aqui o novo treinador do Benfica: vai ser o José Mourinho, a custo zero e salário zero. Tudo por carolice e serviço público.