3.7.05

É a versão lusa da «New Wave» da TV Globo, ou será que vem aí o Adam Anacleto Kristol Monteiro da Direita Portuguesa?

O Rui Albuquerque escreveu um post a que chamou «O regresso liberal do Dr. Paulo Portas». Este texto tem, na minha humilde opinião, um «pecado original»: fala demasiado do CDS, coloca no centro da discussão Paulo Portas, e deixa transparecer ainda um certo azedume pelo facto de muitos dos «novos liberais» sempre terem renegado o Liberalismo, fosse nos fóruns do partido, fosse na sua actuação governativa. Há, pois, que ler este post um pouco além destas máculas e marcas pessoais, pois ele tem, de facto, aspectos interessantíssimos.

Eu já tinha, de certo modo, manifestado o mesmo tipo de preocupação do Rui - embora, talvez por não nunca ter tido qualquer filiação partidária, seja no CDS-PP, seja em qualquer outro partido - transmiti as minhas dúvidas num registo distinto: no meu post de terça-feira passada «To be or not to be Liberal: esta é a questão» desabafava a minha surpresa perante a recente onda de adesões ao Liberalismo.

O Liberalismo não nasceu em Portugal em 2005. Aliás, mesmo no CDS-PP, as tensões entre liberais e democratas-cristãos são antigas (bastaria recordar Lucas Pires, as discussões no seio do Grupo de Ofir, a bandeira ideológica que serviu de base à vitória em 1992 de Manuel Monteiro e a adopção da sigla PP que só não substituiu integralmente a de «CDS» por proibição do Tribunal Constitucional). Quem me conhecia nos finais dos anos 80 recordar-se-á de ser eu um adepto fervoroso de Francisco Lucas Pires, pessoa que respeitava e admirava. A forma como, nessa época, algumas pessoas do CDS o perseguiram, denegrindo até a sua imagem, é a razão pela qual eliminei esse partido do leque das minhas alternativas políticas. Ainda hoje me pergunto o que leva (alguns d)os militantes de um partido que oscila entre o Liberalismo e a Democracia Cristã a degladiarem-se em lutas autofágicas onde o espaço para a diferença raramente existe e as disputas internas se fazem num clima de guerilha armada onde vale (quase) tudo.

Admito que, nos próximos dias, apareça alguém com miopia partidária a criticar estas afirmações; tenho a certeza porém que a generalidade das pessoas que como eu estão fora do CDS-PP mas que o seguem com relativa atenção, ou que, por mero acaso, acabam por ter uma relação equidistante mas próxima com alguns dos actores principais ou secundários do quotidiano deste partido, se revê no que eu aqui hoje escrevo.

Ao contrário do Rui, porém, pouco me interessam, neste momento, as motivações que levam alguns dirigentes do CDS-PP a adoptarem a bandeira do Liberalismo. Até porque, pelo menos no caso de Paulo Portas e Pires de Lima, a sua conversão não é recente (mais nas palavras que nos actos, certamente). Paulo Portas fazia parte do Grupo de Ofir. Pires de Lima, em comentário ao teu post, deixa claro que defende o Liberalismo, pelo menos, desde 1999. É certo que na sua acção governativa, o CDS-PP não demonstrou qualquer apetência liberal: o Orçamento de Estado apresentado por Bagão Félix, está bem longe de ser liberal; o mesmo se pode dizer da intervenção estatal na recuperação das OGMA, nos estaleiros navais de Viana do Castelo, na tentativa de viabilização, mesmo em vésperas de eleições, da Bombardier (que também não denotam uma especial sensibilidade liberal). E muitos outros exemplos podiam enumerar-se. Façamos justiça a Pires de Lima, que não pecou neste campo, pois não fez parte do Governo.

Eu fico satisfeito que se discuta o Liberalismo. Seja nos blogues, seja nos jornais, seja nos partidos, seja em fóruns públicos, seja em tertúlias informais.

Se a adesão ao Liberalismo é sincera ou apenas táctica, se é um impulso ou assenta em bases dogmáticas sólidas, o tempo encarregar-se-á de o desvendar. O tempo mas não só: o Blasfémias, o Insurgente, a Causa Liberal, a Mão Invisível, todos os blogues de inspiração liberal e muitas pessoas que, como nós, andam por aí, e representam neste momento a face mais visível de uma sociedade civil minoritária mas emergente, critica, descomprometida e bem preparada, e que não tem «Medo de Existir».

Eu, da minha parte, vou mesmo andar por aí. Não tenho, como diz José Gil, feitio para a «não inscrição». Onde se discutir o Liberalismo, irei estando. E quem me conhece, sabe bem qual é o tom da minha voz. Embora rouca e nem sempre afinada, tem um timbre inflexível. Mas sempre disponível para promover aquilo em que acredito.

Rodrigo Adão da Fonseca

P.S. Hoje, no Expresso, choquei com a seguinte notícia:

«Monteiro lança Revista "Nova Vaga" - O Partido da Nova Democracia vai passar a editar uma revista mensal, com o título "Nova Vaga", para defender os valores ideológicos neoconservadores e liberais. A revista irá «promover um novo conservadorismo e um liberalismo de consciência real», contra o monopólio e a ditadura das multinacionais, nas palavras de Manuel Monteiro, líder do partido».

Os tempos estão, de facto, confusos e difíceis de explicar... No mesmo «saco», Liberalismo e Neoconservadorismo, com uma pitada de luta contra os monopólios e multinacionais ... Pelo que me apercebo, anda tudo por aí!