19.9.05

E agora? (2)

Angela Merkel não deverá sobreviver politicamente muito mais tempo. A sua derrota só não é total, por ter sido, tangencialmente, o partido mais votado. Mas tal será insuficiente para se manter na liderança, pois que viu fugir parte do seu eleitorado para os seus aliados do FDP. A descida em 3,5% do seu eleitorado reflecte bem que não só a sua campanha contra o governo SPD não resultou, como as suas propostas reformistas foram claramente derrotadas. Ainda que conseguisse formar governo, sempre seria uma solução de curto prazo, fosse pela instabilidade parlamentar, pela forte oposição interna que se adivinha ou meramente por impossibilidade política de aplicação do seu programa. O seu tempo terminou.
Gerard Shroeder tem boas condições para se manter como chanceler se conseguir forçar a aliança com o FDP, ainda que apenas a nível parlamentar, pois que estes terão o interesse em retirar dividendos do excelente resultado alcançado e não estarão particularmente interessados em correr riscos desnecessários, em novas eleições .
Após 7 anos de governo a votação do SPD foi lisonjeira, uma vez que as sondagens o davam como totalmente derrotado, tendo perdido marginalmente apoio junto do seu eleitorado mais conservador, o qual se refugiou na aliança dos seus dissidentes com os ex-comunistas do Leste.
O cenário político dentor do qual a Alemanha necessita rapidamente de obter uma plataforma de governo será também, a curto e médio prazo, favorável ao SPD, uma vez que a hipótese de grande coligação parece excluída, se se mantiver na liderança da CDU Angela Merkel (a qual não teria condições políticas de ser a nº2 de tal governo). Shroeder, ao colocar-se na primeira fila para o lugar de chanceler (numa jogada política brilhante), como que «despediu» Angela Merkel. A acontecer uma grande coligação, com novo líder da CDU/CSU (Stroiber?), certamente será um governo de transição, até eleições mais clarificadoras, em que, mais uma vez, e a não cometer muitos erros, o SPD poderia, com o apoio dos verdes, alcançar uma nova maioria.
A situação difícil em que se encontra o estado social e a economia alemã provavelmente exigiriam medidas radicais, do género das defendidas por Angela Merkel, mas os eleitores assim o não quiseram. Mas também é fácil de prever que Shroeder terá de acelerar e aprofundar fortemente as, até agora tímidas e quase cirúrgicas, mudanças, por força da grave letargia em que se encontra a principal economia europeia.