4.9.05

Terramoto de Lisboa e a Análise de Risco

A propósito da questão discutida no Abrupto.

A posição da opinião pública é totalmente irracional. Os conceitos de probabilidade, de incerteza e alocação óptima de recursos estão completamente ausentes da discussão e prevalece a emoção e o senso comum.

A pobabilidade de um terramoto em Lisboa é relativamente baixa. Os registos históricos mostram que há um terramoto grave em cada 250 ou 500 anos. Por este motivo, a probabilidade de um terramoto ocorrer nos próximos anos é baixa, e por isso é totalmente irracional alocar todos os recursos para a prevenção de terramotos em Lisboa de uma só vez. O mais racional é a distribuíção dos recursos ao longo dos anos, o que tem sido feito porque o parque habitacional vai sendo renovado com novas regras de construção. O problema de Lisboa nem sequer é o investimento público, mas o congelamento das rendas, uma medida que quando tomada foi muito popular.

O problema de Nova Orleães é semelhante. Os diques existentes foram projectados para um furacão de grau 3 porque essa era a situação mais provavel. Teria sido um erro projectar os diques na altura em que foram construídos para um furacão de grau 4. Mas esta solução implicava o reforço dos diques e a sua expansão ao longo do tempo. O que estava a ser feito ao ritmo a que o processo político permite.

Bush é acusado de ter desviado fundos da manutenção dos diques para o combate ao terrorismo. Curiosamente, no 11 de Setembro tinha sido acusado de não ter impedido os ataques terroristas. Ora, isto são análises feitas a posteriori com base em informação nova. Há 2 ou 3 anos toda a gente pedia um reforço do combate ao terrorismo e poucos defendiam que esse reforço era uma má alocação de recursos. Curiosamente, agora a maré virou outra vez.