5.9.05

UM INESGOTÁVEL TALENTO

A classe política portuguesa usa e abusa das eleições para os órgãos de soberania, fazendo quase sempre circular por todas elas os mesmíssimos figurões.
Esta paretiana «circulação das elites», a fazer lembrar a insistência com que as telenovelas brasileiras nos servem alguns actores mais famosos, não é séria e desilustra o regime. Não é séria por várias razões, mas sobretudo porque não parece correcto que um senhor deputado da Assembleia da República, com um compromisso de legislatura assumido perante os eleitores, possa subitamente ver-se em Belém, na presidência da Câmara de Freixedas, ou em Bruxelas. Mas é igualmente desonesta, na medida em que ela não passa de um aproveitamento da flexibilidade legal, para aproveitar mais algum tempo de antena, alguns recursos que o Estado disponibiliza, e marcar espaço político-partidário.
Obviamente que tudo isto retira crédito ao regime, do pouco que ainda lhe vai sobrando, mas ainda mais aos políticos em causa, que demonstram, assim, não levar a sério os compromissos assumidos e os que dizem querer assumir. Estão-se, em suma, «nas tintas» para os eleitores.
Era boa hora de se criarem entraves legais a este corropio político-eleitoral, fixando limites a tanta criatividade, capacidade e disponibilidade, certamente suportada por um insuportável talento da nossa classe dirigente.