24.1.06

Recriminações ao eleitorado

Escreve Vital Moreira hoje no Público (link não disponível):

E Mário Soares? Para as grandes personagens, as ocasionais derrotas, mesmo as mais pesadas, são uma simples nota de rodapé numa grande biografia. A sua determinação quase quixotesca nesta derradeira luta política só pode impressionar, acrescentando mesmo uma aura de injustiça e ingratidão histórica face ao seu sacrifício pessoal. E se porventura Cavaco Silva confirmar a sua vocação de ingerência na área governativa, e Alegre não resistir a explorar dentro do PS a sua posição eleitoral, ainda veremos Soares a proclamar, com razão: eu não dizia?

Eu diria que:
  1. Um apego excessivo ao poder representa muitas vezes uma enorme mancha no curriculum das grandes personagens. Helmut Kohl constitui, a esse título, um dos exemplos mais flagrantes.
  2. Uma determinação quixotesca é mais risível e caricata do que impressionante.
  3. Os eleitores não votam por razões de gratidão ou de justiça por actos passados ou sacrifícios pessoais (só é penitente quem quer), mas (e muito bem) em função de expectativas futuras. Se assim não fosse, Churchill teria sido 1º ministro vitalício.
  4. É muito provável que Cavaco se venha a revelar um Presidente interventivo. So what? Estará a corresponder às expectativas dos 86% de eleitores que votaram em candidatos com perfil intervencionista.