9.5.06

Em média acabaremos todos por ir morar para Lisboa

Este caso das maternidades é muito interessante. O ministro quer fechar maternidades com base num critério técnico (pelo menos é isso que ele diz). De acordo com tal critério, as maternidades com menos de 1500 partos por ano têm um risco inaceitável.

Curiosamente, as grávidas afectadas pela medida, depois de informadas do risco, preferem corrê-lo.
###
E este é o cerne do problema. Há uma entidade central que define o que é o risco aceitável e depois há pessoas que preferem correr riscos por razões muito próprias, precisamente aquelas razões que nos distinguem uns dos outros e que distinguem as sociedades humanas dos formigueiros.

A vida acéptica asséptica e sem riscos só é possível nos gabinetes. Só os burocratas é que andam iludidos ao ponto de pensarem que existe uma calculadora universal do risco que serve a todos. O que nos leva de volta à questão das médias. Em média, o risco das maternidades com menos de 1500 partos até pode ser inaceitável, mas dado que todos somos diferentes uns dos outros, dado que cada um de nós tem as suas preferências, o risco das maternidades com menos de 1500 partos pode ser inaceitável para uns mas não para outros. E pelos vistos, há pessoas que não se importam de correr esse risco, tal como não se importam, contra toda a expectativa, de continuar a morar fora dos grandes centros. Em média, os portugueses preferem morar no Porto ou em Lisboa. Numa análise mais detalhada, há alguns que ainda preferem morar noutros sítios.