No programa de reforma da segurança social -- com medidas consistentes e imperiosas -- há uma que bem podia ser mais ousada. Refiro-me à que prevê o estabelecimento de um máximo para o montante das pensões (com referência a um valor ainda por determinar), mas cujo efeito consiste apenas em "congelar" desde agora no seu actual valor as que excederem aquele limite. O que quer dizer que vão continuar a ser atribuídas pensões de valor superior a 5000 euros, mesmo quando, como sucede em geral, o esforço contributivo dos beneficiários ao longo da sua vida activa não as justifica de modo algum.
Dando de barato que a medida defendida por Vital Moreira é justa em geral, isto é, para a maior parte dos contribuintes, pergunto: a medida é justa para os casos particulares em que as reformas são justificadas pelo esforço contributivo dos beneficiários ao longo da sua vida activa? O dito de outra forma: a chamada justiça social é motivo suficiente para justificar injustiças individuais? E que esforço é que está a ser feito para distinguir as reformas justas das injustas? Não deveria ser essa a preocupação da esquerda?
Nota: Depois de vários posts esquerdistas no dia 1 de Maio, nos quais defendi os trabalhadores excluidos e ignorados pelas centrais sindicais, volto a escrever um novo post esquerdista, desta vez a defender os trabalhadores que, tendo contribuído para o sistema de segurança social durante dezenas de anos, vêem agora as suas expectativas defraudadas pelo Estado Social.