7.5.06

para que serve um partido assim?

1. Em trinta e dois anos de história, o CDS foi por três vezes poder. Foi-o sempre em coligação (com o PS e com o PSD) e por breves períodos de tempo. Exceptuando a primeira coligação, sempre que o CDS saiu do governo saiu mais fraco, com menos votos e pior imagem na opinião pública, dilacerando-se imediatamente a seguir em lutas internas às quais o país não prestou nem presta a menor atenção. Depois da segunda vez que foi governo o CDS esteve vinte anos sem lá voltar, tão favorável foi a imagem que legou ao eleitorado, e isto numa altura em que o partido tinha poder local e ainda alguns nomes fortes nos seus quadros. Para além disto, o CDS teve poder autárquico que, sem excepção, tem vindo a diminuir a cada nova eleição local. Actualmente, o partido tem, se não me engano, duas câmaras municipais a que preside e algumas dúzias de vereadores espalhados por câmaras do PSD.

2. O dr. Ribeiro e Castro acaba de «ganhar» a sua terceira eleição para presidente do CDS, no inacreditável período de um ano. Ou é um líder muito amado pelo partido, que sente a necessidade de lhe expressar frequentemente esses elevados sentimentos, ou é um líder inseguro e a curto prazo. Ao contrário do que sensatamente o advertiu a dra. Nogueira Pinto, parece estar disposto a aceitar o cargo a qualquer preço. Teve, ele que já era presidente do CDS, 57% dos votos dos congressistas, contra 42% da moção apresentada pelo presidente da JP. Ao contrário do que é evidente, o dr. Ribeiro e Castro vê nesta «maioria» uma votação confortável. Ainda que do outro lado esteja o grupo parlamentar em peso que, como se tem visto, não está disposto a dar-lhe uma vida pacífica, e o dr. Paulo Portas, ou, vá lá, os portistas, já que o próprio fez questão de não ter ido ao congresso. Tivesse lá estado, como inevitavelmente um dia voltará a estar, e o dr. Ribeiro e Castro teria muito provavelmente ido tomar café uns anos mais cedo do que lhe estão a preparar.###

3. Se a Constituição da República e a legislação eleitoral e dos partidos não fossem proteccionistas, se o mercado eleitoral português fosse um mercado livre, o CDS já há muito não existiria. Se aquele acervo normativo feito, no essencial em 1975, não existisse para proteger os «pais fundadores» do regime, o CDS não teria direito nem ao «minibus» em que agora se passeia, nem ao taxi com que já andou e se suspeita voltará brevemente a andar. Só que, na verdade, os entraves à constituição e ao desenvolvimento de novos partidos e os favorecimentos aos que existem são quase intransponíveis: formalidades draconianas, subsídios estatais, condições de acesso a eleições, à comunicação social, etc.

4. Por último, a questão essencial: para que serve o CDS? Que ideias trouxe ao país, quer quando esteve no governo quer quando está na oposição? Que valores e princípios defende que justifiquem a sua separação do PSD? Que extratactos sociológicos representa? Bastará que se diga de «direita»? Mas que direita é essa? Que valores são os seus? Que programa de governo preconiza? Muito provavelmente, se perguntarem isto e mais algumas coisas aos dirigentes do partido, estes que lá estão agora, os que estiveram antes e aqueles que hão-de vir a seguir, ouviremos as banalidades do costume: «a democracia-cristã», «a justiça social», «a direita dos valores», e, muito francamente, não me parece que digam muito mais.

5. Tudo isto - a história, o protagonismo desempenhado, as ideias e os valores defendidos, o modo como se tem relacionado com o eleitorado - é muito pouco para continuar a justificar a sua existência.