5.4.04

DESPEJOS

O meu caro LR fez uma posta aqui mais abaixo defendendo a política camarária do Porto, relativamente a alguns bairros sociais problemáticos. Nada tenho a opor a tal política. Pelo contrário. Era tempo de tomar providências para acabar com alguns cancros sociais que nesta cidade se vinham a perpetuar. Tenho apenas uma divergência, não quanto ao fim, mas quanto aos meios: a forma dos despejos. Ressalvo que me baseio no que leio nos jornais, seja do lado dos opositores a tais medidas, seja do lado da câmara.
Em suma, não acho aceitável que uma família seja despejada com base em indícios policiais de prática de actividades ilegais. Por alguma coisa existem leis. Más certamente. Decisões demoradas que podem por em causa o seu efeito prático. Também de acordo. Mas tais circunstâncias são iguais para quase qualquer cidadão. Não vejo que seja admissível que uma qualquer entidade, ainda que por razões altruísticas ou de defesa de interesses superiores utilize instrumentos discricionários e de poder administrativo sem possibilidade de contestação judicial. Este o primeiro ponto. O segundo, diz respeito á noção de família: se um seu elemento tem comportamentos ilegais, não é aceitável que a respectiva família seja toda ela penalizada. Não vivemos na lei da selva (nem em Israel). Em terceiro, diz respeito ao que li e não vi contestado (embora admita, como em tudo mais, ter uma informação deficiente, pelo que agradeço desde já esclarecimentos), que as famílias foram avisadas uma hora antes para retirar os seus objectos pessoais. Não é uma atitude aceitável, sobretudo do ponto de vista humano.
Por último, sobre as associações e a influencia da imprensa. Meu caro LR: estas tem o poder que conseguem conquistar. Seja o mesmo dado pelos órgãos de informação, e aí apenas há que reconhecer que as mesmas trabalham bem e são eficientes, ou pela razoabilidade dos seus argumentos e aí nada haverá a dizer. Em qualquer disputa deste tipo, se o lado “contrário” não consegue fazer passar a mensagem, apenas há que denunciar as “manipulações”, se existirem e sobretudo, “vender” melhor a sua mensagem. Nada se ganha em denegrir, sem argumentação o opositor. Há é que trabalhar. E nisso, esta câmara tem graves deficiências, independentemente de eu também concordar ter um ambiente, em geral, hostil nos principais meios.