(foto Santiago Ribas)
Senhor Primeiro-Ministro
Tomei conhecimento que Vexa pretende realizar regularmente reuniões do Conselho de Ministros fora de Lisboa, nomeadamente na minha cidade do Porto, para o que terá já determinado a disponibilização das respectivas instalações
Vexa é conhecido por ser célere na tomada de decisões irreflectidas, tendo no entanto o condão de vez em quando fazer o necessário mea culpa, mais ou menos assumido e nem sempre levar por diante o anteriormente determinado. O que certamente muitas vezes evita danos maiores do que a sua concretização. Não deixa de ser uma forma aproximada de sabedoria.
Creia-me Vexa que julgo ser este um caso oportuno para tal atitude, se não sábia, pelo menos avisada. É que, recordo a Vexa, esta cidade é uma cidade orgulhosa da sua história, da sua liberdade e da sua honradez. E não precisa de esmola e muito menos de fantochadas, se me permite a expressão.
Não será com facilidade que aceitará passar a ser uma qualquer espécie de cidade cortesã, onde uma vez por mês Vexa e respectivos ministros, secretários de Estado assessores, motoristas, jornalistas e demais cortesãos "subam" até à nossa cidade, pretendendo dar importância a uma cidade pelo facto de o seu nobre e glorioso nome passar a constar da assinatura das burocráticas leis, portarias e resoluções que Vexa muito bem decidir assinar à beira rio.
Saiba vexa que eu não estou disposto a que a minha cidade sirva para passeios fotogénicos, retratos enquadrados no velho casario, passeatas ostensivas de veículos oficiais a alta velocidade, interrupções de trânsito injustificadas, reforço de medidas policiais com prejuízo da vida urbana normal, já de si difícil, entre outros actos típicos de quando a corte se desloca do sofá para outros poleiros, perdoe-se-me a franqueza
Assim sendo, venho solicitar a Vexa que de imediato abandone a ideia peregrina de insultar esta cidade com a sua presença mensalmente, uma vez que passaremos bem melhor sem ela.
E termino citando o texto do Rei Fernando I, reconhecendo humildemente o direito da cidade de não ter de disponibilizar as suas "palhas" a Reis e fidalgos?.
"Dom Ffernando pella graça de Deos Rey de Portugal e do Algarve o vos Juizes da Çidade do Porto e o todollas outros nossas justiças a que esta carta for mostrada, Saude. Sabede que o Conçelho e homens boons dessa Çidade nos emvyarom dizer que por muytas vezes pelos Reis dante e outrossy por nos, ouverom liberdades que fidalgos nem pralados nom pousassem com elles nem lhis tomassem suas palhas nem lenhas specialmente quando nos hy nom fossemos Ese alguuns destes fidalgos pousassem com alguum sseu amjgo que nom pousassem ne stevesse hy mays que tres djas nem tomasse dss casas de seus vezinhos nem sas cavalariças nem suas palhas nem pousassem com elles. E que ora des que sse esta guerra começou dizem que fidalgos grandes e prellados leyxam dir poussar nos moesteyros e mandar sas companhas aas stalageens ou as que para esto forem e hirem pousar em ellas que hy bem poderiam caber e stam vagas e vam pedir barros (?) na Rua dos Mercadores (?) E nos veendo o que nos pedjam e querendolhjs fazer graça e merçee temos por bem e mandamosvos que lhis aguardades e façades aguardar todo esto por a guissa que por elles he pedjdo E nom conentades o nem huum fidalgo nem prelado nem aoutros pesoas poderossos que sejam que pousem com elles e elles nem suas companhas em nenhuum logar que seio salvo nos ditos moesteiros stalagens aqueles que pertençe em ellas de pousar ?".
Carta de D. Fernando datada de 16 de Dezembro de 1374