"The main lesson which the true liberal must learn from the success of the socialists is that it was their courage to be Utopian which gained them the support of the intellectuals and therefore an influence on public opinion which is daily making possible what only recently seemed utterly remote."
F.A.Hayek. The intellectuals and socialism (1949).
Aristóteles defendeu o esclavagismo e Platão defendeu a dissolução da estrutura básica da família, com educação das crianças pelo conjunto das pessoas. Nenhum desses conceitos sobreviveu nas actuais sociedades democráticas. Platão e Aristóteles não deixam, contudo, de ser dois dos principais pensadores da Humanidade. Alguém que quisesse, no momento presente, defender qualquer um dos conceitos acima referidos não seria, com toda a probabilidade, levado a sério, ainda que defendesse exactamente os mesmos conceitos de Aristóteles e de Platão. É que a História mostrou que os conceitos atrás referidos estão errados (pelo menos, tanto quando a evolução da Humanidade até à presente data permite afirmar).
Um intelectual, palavra utilizada no sentido de representar alguém capaz de raciocinar sobre temas estranhos à sua própria área de preparação técnica, é distinto de um perito, alguém que se diferenciou no estudo de uma qualquer matéria. De um intelectual espera-se que seja dotado de uma qualquer filosofia pessoal, filosofia que deve conferir coerência ao seu pensamento, quando aplicado a diferentes tópicos.
No que diz respeito à filosofia política, a passagem do tempo tem feito com que numerosas variedades de escolas de pensamento tenham soçobrado. Entre estas escolas de pensamento, defuntas, contam-se exactamente o esclavagismo, o racismo, o absolutismo, o comunismo, o nacional-socialismo e o fascismo, entre outras. Têm em comum o facto de se encontrarem, em termos práticos, mortas, não obstante o facto de existirem ainda numerosos cultores de cada uma delas. Ainda existem esclavagistas, racistas, nacional-socialistas e comunistas. Não existe um risco significativo, contudo, de qualquer uma destas filosofias políticas se tornar predominante numa Democracia Liberal.
As únicas escolas de filosofia política que actualmente têm verdadeira importância são o Socialismo democrático e o Liberalismo, devendo acrescentar-se uma terceira escola, menos bem definida do que as anteriores, o Conservadorismo, a qual inclui, com frequência, elementos das duas anteriores, acrescentados de elementos provenientes de filosofias reveladas, e, portanto, declaradamente sem uma base racional.
Os intelectuais importantes (no sentido do impacto, sobre a sociedade, do respectivo pensamento, não no sentido do grau de exposição nos mass media) são aqueles que tentam combinar elementos das filosofias importantes, e que, em consequência, não seguem as filosofias que já foram rejeitadas pela História da Humanidade. É que, partindo de pressupostos errados, é muito difícil atingir conclusões correctas, a não ser por mero acaso.
As pessoas que se agarram a filosofias ultrapassadas podem, no entanto, ser pessoas de grande valor: técnicos de valor extraordinário nas suas áreas profissionais; artistas fabulosos, motivo de grande admiração pela sua obra; pessoas com perfis vivenciais notáveis, a vários níveis. Em resumo, existem, com frequência, pessoas maravilhosas, animadas por filosofias pessoais, no mínimo, discutíveis. Tais filosofias teriam feito sentido, para as pessoas em causa, na ocasião em que formaram a sua própria consciência política, verificando-se, com alguma frequência, efeitos de geração.
No que diz respeito aos intelectuais, considerados enquanto tal e salvo melhor opinião, não existem intelectuais importantes contemporâneos, no sentido acima definido, que sejam comunistas, nacional-socialistas, fascistas, racistas ou esclavagistas. Seria uma contradição nos próprios termos. Os únicos intelectuais importantes são aqueles que aceitam os princípios de civilização predominantes nos nossos dias, ou seja, os princípios da Democracia Liberal. A História mostrará se esta última triunfará, quando confrontada com as sempre novas faces do totalitarismo.
José Pedro Lopes Nunes
P.S. Este texto foi redigido originalmente em Fevereiro de 2005, suscitado pela leitura do texto de Eduardo Lourenço "Intelectuais, Democracia e Socialismo", publicado no jornal "Público", em 18 de Fevereiro de 2005.
F.A.Hayek. The intellectuals and socialism (1949).
Aristóteles defendeu o esclavagismo e Platão defendeu a dissolução da estrutura básica da família, com educação das crianças pelo conjunto das pessoas. Nenhum desses conceitos sobreviveu nas actuais sociedades democráticas. Platão e Aristóteles não deixam, contudo, de ser dois dos principais pensadores da Humanidade. Alguém que quisesse, no momento presente, defender qualquer um dos conceitos acima referidos não seria, com toda a probabilidade, levado a sério, ainda que defendesse exactamente os mesmos conceitos de Aristóteles e de Platão. É que a História mostrou que os conceitos atrás referidos estão errados (pelo menos, tanto quando a evolução da Humanidade até à presente data permite afirmar).
Um intelectual, palavra utilizada no sentido de representar alguém capaz de raciocinar sobre temas estranhos à sua própria área de preparação técnica, é distinto de um perito, alguém que se diferenciou no estudo de uma qualquer matéria. De um intelectual espera-se que seja dotado de uma qualquer filosofia pessoal, filosofia que deve conferir coerência ao seu pensamento, quando aplicado a diferentes tópicos.
No que diz respeito à filosofia política, a passagem do tempo tem feito com que numerosas variedades de escolas de pensamento tenham soçobrado. Entre estas escolas de pensamento, defuntas, contam-se exactamente o esclavagismo, o racismo, o absolutismo, o comunismo, o nacional-socialismo e o fascismo, entre outras. Têm em comum o facto de se encontrarem, em termos práticos, mortas, não obstante o facto de existirem ainda numerosos cultores de cada uma delas. Ainda existem esclavagistas, racistas, nacional-socialistas e comunistas. Não existe um risco significativo, contudo, de qualquer uma destas filosofias políticas se tornar predominante numa Democracia Liberal.
As únicas escolas de filosofia política que actualmente têm verdadeira importância são o Socialismo democrático e o Liberalismo, devendo acrescentar-se uma terceira escola, menos bem definida do que as anteriores, o Conservadorismo, a qual inclui, com frequência, elementos das duas anteriores, acrescentados de elementos provenientes de filosofias reveladas, e, portanto, declaradamente sem uma base racional.
Os intelectuais importantes (no sentido do impacto, sobre a sociedade, do respectivo pensamento, não no sentido do grau de exposição nos mass media) são aqueles que tentam combinar elementos das filosofias importantes, e que, em consequência, não seguem as filosofias que já foram rejeitadas pela História da Humanidade. É que, partindo de pressupostos errados, é muito difícil atingir conclusões correctas, a não ser por mero acaso.
As pessoas que se agarram a filosofias ultrapassadas podem, no entanto, ser pessoas de grande valor: técnicos de valor extraordinário nas suas áreas profissionais; artistas fabulosos, motivo de grande admiração pela sua obra; pessoas com perfis vivenciais notáveis, a vários níveis. Em resumo, existem, com frequência, pessoas maravilhosas, animadas por filosofias pessoais, no mínimo, discutíveis. Tais filosofias teriam feito sentido, para as pessoas em causa, na ocasião em que formaram a sua própria consciência política, verificando-se, com alguma frequência, efeitos de geração.
No que diz respeito aos intelectuais, considerados enquanto tal e salvo melhor opinião, não existem intelectuais importantes contemporâneos, no sentido acima definido, que sejam comunistas, nacional-socialistas, fascistas, racistas ou esclavagistas. Seria uma contradição nos próprios termos. Os únicos intelectuais importantes são aqueles que aceitam os princípios de civilização predominantes nos nossos dias, ou seja, os princípios da Democracia Liberal. A História mostrará se esta última triunfará, quando confrontada com as sempre novas faces do totalitarismo.
José Pedro Lopes Nunes
P.S. Este texto foi redigido originalmente em Fevereiro de 2005, suscitado pela leitura do texto de Eduardo Lourenço "Intelectuais, Democracia e Socialismo", publicado no jornal "Público", em 18 de Fevereiro de 2005.