O Ciberduvidas da Língua Portuguesa é uma iniciativa muito meritória e cheia de interesse. A sua popularidade e elevado número de utilizadores atesta bem a sua qualidade e êxito.No entanto, os seus promotores defrontam dificuldades económicas que estão a colocar em risco a sua continuidade. Nesse sentido, foi colocada a correr uma petição para que o governo, de alguma forma, sustente o projecto. O seu actual promotor, em email enviado e publicado no abrupto dá conta dos esforços que já desenvolveu para encontrar patrocínios. O que se tem revelado infrutífero. A verba necessária para a manutenção daquele projecto ronda os 5 mil euros mensais.
A estes dados, acresce que:
1. Os seus promotores não pretendem tornar comercial tal projecto, mas manter o seu carácter universal e gratuito;
2. Não estão dispostos á sua venda, por temerem a sua adulteração, nomeadamente por via comercial;
3. Entenderam que a única forma de viabilização económica de tal projecto seria o mesmo ser patrocinado por uma qualquer grande instituição, pública ou privada. Como as mesmas não responderam positivamente, solicitam agora ajuda directa do Estado.
Sobre o ponto 1 e 2, não tenho nada de especial a dizer, pois que tal decorre da autonomia e interesses próprios dos seus promotores, e os mesmos estão conscientes das prováveis ou previsíveis consequências. Não há que discutir.
Já sobre o ponto 3, julgo o seguinte:
- tal estratégia está condenada ao fracasso, uma vez que é sabido que tais «grandes instituições», públicas ou privadas, não necessitam, para a sua promoção ou dos seus serviços de publicidade do tipo solicitado. Em consequência, todo e qualquer patrocínio que seja por estas concedido tem uma dimensão política, que, pelos vistos, não está ao alcance de ser proporcionada aos actuais promotores.
A ajuda directa do governo está também ela dependente do factor político, para além de ser injusta, iníqua e ineficiente, caso fosse alcançada.
Então, que fazer? Não há alternativas?Julgo que sim e deixo aqui (gratuitamente), algumas que podem ser exploradas.
1. Sem subverter o carácter não comercial de tal projecto (questão essencial para os seus promotores), não vejo porque não possa ser solicitado aos utilizadores ajuda financeira, voluntária e incondicional. Muitas ong's e outras instituições sem fins lucrativos o fazem, apelando ao sentido solidário e de suporte ás actividades por si desenvolvidas. É um caminho que ainda não foi explorado.
2. Diferenciar produtos e serviços: podem ser criados diversos níveis de serviços, uns universais, mantendo as actuais características e outros comerciais, de nível mais elevado e por natureza de público mais restrito, mas potencialmente mais aberto ao seu pagamento.
3. Existem hoje ferramentas digitais para a realização de micro-pagamentos (exemplo: paypal), os quais poderiam ser solicitados apenas a certas categorias de utilizadores, ou mesmo numa base de apoio (tipo «liga de amigos»).
4. Não sei até que ponto foram exploradas outras alternativas de suporte promocional, nomeadamente junto de empresas e serviços online privados, os quais, para além de suporte directo financeiro, poderiam também adquirir em exclusivo ou de forma personalizada tais serviços. Penso por exemplo em portais de internet, livrarias, editoras ou empresas de telecomunicações que tivessem nos seus sites um canal «ciberdúvidas».
5. Tendo tal projecto uma dimensão supranacional, devido ao factor específico do mercado «língua», também se desconhecem se houve tentativas de suporte publicitário/patrocínio junto do seu potencial maior mercado: o brasileiro. Recorde-se que o mercado de internet naquele país é substancialmente mais desenvolvido do que em Portugal.
6. Por último, os seus promotores poderiam explorar produtos/serviços complementares e subsidiários, que de alguma forma servissem de suporte financeiro ao projecto. Por exemplo, a edição de livros e cd's temáticos. Nunca esquecendo a dimensão global do mercado da língua portuguesa.
Boa sorte.