14.9.05

Re: Os detalhes da chatice, João Pinto e o Rei Midas

Joana,

Quando eu digo «não está demonstrada nenhuma relação entre furacões e aquecimento global» estou mesmo a falar a sério. Estou mesmo a falar de uma relação física entre um fenómeno e outro e estou mesmo a falar de demonstração, isto é, estou a falar de uma relação física entre fenómenos para a qual existem provas para além de qualquer discussão. Se reparar, o que não faltam são discussões na comunidade cientifica sobre as tais provas e sobre a intensidade de uma eventual relação. É aliás por isso que nos textos que cita aprecem palavras que denotam uma grande falta de rigor como «But there are indications» e «My results suggest». «Indicações» e «sugestões» não são provas e não demonstram coisa nenhuma. Repare ainda na apetência de alguns cientistas para fazer previsões dramáticas em relação ao futuro e na pouca vontade para se comprometerem com posições definitivas em relação ao presente. O que há neste momento são hipóteses e teorias, baseadas quer em relações estatísticas pouco significativas por falta de eventos, quer em modelos computacionais pouco fiáveis por falta de validação.

Mesmo que se demonstre, sem margem para dúvidas, que há uma relação de causa efeito entre aquecimento global e furacões não se segue que o problema já podia estar resolvido. O conhecimento obtido no presente não pode ser usado para mudar o passado. Ao contrário do que a Joana afirma, a própria existência de aquecimento global foi alvo de debate até finais da década de 90. Nos anos 70 não se falava em aquecimento global mas em arrefecimento global. A origem antropogénica do aquecimento global ainda é contestada por cientistas reputados. Continuam a ser gastos milhões de dólares a melhorar os modelos computacionais que são usados para fazer as previsões apocalípticas divulgadas pelos media.

A inutilidade prática do Protocolo de Quioto para resolver o que quer que seja é reconhecida por todos, inclusive pelos seus defensores, que lhe atribuem uma importância meramente simbólica. Mas o problema mais importante o Protocolo de Quioto é político. De cada vez que o preço de petróleo sobe é o Deus nos acuda que a economia entra em recessão. Ora, o efeito de uma solução tipo Protocolo de Quioto na economia é idêntico ao efeito de um aumento do preço do Petróleo. Quem é que está disposto a aceitar menos crescimento e mais desemprego? Os partidos de esquerda não são de certeza. Por isso, o Protocolo está condenado a ser uma mera bandeira oca para satisfazer as consciências e atacar os Estados Unidos.

Para além do mais, o Protocolo de Quioto nem sequer é a melhor solução para resolver o problema dos furacões. O problema dos furacões existe, com aquecimento global ou sem aquecimento global, e tem aumentado por causa do aumento da população junto às zonas costeiras. Teremos sempre furacões e sempre tivemos furacões, pelo que o problema não se resolve com protocolos. O problema dos furacões terá que ser resolvido com estratégias de mitigação dos seus efeitos e de adaptação da presença humana às condições ambientais.