Nota: este é um post totalmente abstracto e não tem como objectivo criticar posições em concreto. O editorial de Nuno Pacheco no Público já foi analisado aqui.
1. Em democracia, o único processo objectivo de se determinar o peso eleitoral de um candidato é através de eleições. Se o peso político de um candidato pudesse ser determinado a priori, as eleições não seriam necessárias.
2. A função do jornalismo é informar. Não é representar os candidatos a um cargo político de acordo com uma estimativa do peso político de cada um. A função do jornalista não é fazer uma pré-decisão sobre quem merece ser Presidente da República. A função do jornalista é seleccionar toda a informação relevante para que a pessoa para quem o jornalista trabalha, o leitor, possa decidir quem merece ser Presidente da República.
3. Um jornalista, enquanto jornalista, não pode usar o desconhecimento público das ideias dos candidatos como pretexto para os ignorar porque a função do jornalista é precisamente dar a conhecer ao público aquilo que não é público.
4. Se os candidatos desconhecidos pelo público são propositadamente ignorados pelos media porque são desconhecidos ou porque não têm peso político, então a renovação dos agentes políticos tem que começar pela renovação das redações dos jornais.
5. Curiosamente, aqueles que mais pedem a renovação da classe política são também aqueles que, no cumprimento da sua profissão, ignoram os outsiders mesmo quando o critério jornalístico não o justifica.
6. Nesta pré-campanha entrevistaram-se os pré-candidatos que toda a gente conhece de gingeira e ignoraram-se precisamente aqueles que ninguém conhece. Se a função das entrevistas é dar a conhecer ideias não conhecidas do candidado, nao faz sentido. Claro que do ponto de vista político faz todo o sentido. Não se pode é alegar que do ponto de vista jornalístico também faz. Nenhum dos desconhecidos tinha consistência suficiente para merecer atenção? Alguém se deu ao trabalho de verificar?
7. Claro que podem existir critérios jornalisticos para que determinados candidatos sejam ignorados. Mas a falta de peso político, a profissão, os slogans ou o desconhecimento das ideias do candidato pelo público não são critérios suficientes*. A justificação tem que ser mais sólida. Eu, por exemplo, gostava de saber por que é que Manuela Magno não merece pelo menos o dobro da atenção da que tem tido (falo das ideias de Manuela Magno e não do insólito de ela ser uma candidata outsider).
8. Claro que eu sei que, em tempos de campanha eleitoral, a maior parte das redações funcionam mais de acordo com critérios políticos do que de acordo com critérios jornalisticos. Eu estou apenas a fingir que não sei. For the sake of the argument ...
9. Claro que o mau jornalismo é livre. Não está é a salvo da crítica e por isso tem custos.
*Há uma diferença entre "condição necessária" e "condição suficiente"