Ao que se diz, a ministra da Cultura pretenderá que Joe Berardo doe a sua colecção ao Estado, mas ele não estará pelos ajustes. Custa-me a crer na inflexibilidade daquele "homem de cultura", que conhecerá muito bem as artes da negociação, trate-se de minas de ouro, de quadros ou de lavagens de cupão.
Berardo pretende arranjar financiamento a título gratuito para a guarda e manutenção de cerca de 4.000 quadros, actividade que não ficará barata. Mas "enroupando-a" e encarecendo-a ainda mais com a criação de um museu, formata-se um produto facilmente vendável a políticos ainda mais parolos e sedentos da glorificação cultural.
Um tal "formato", com funções devidamente "segregadas" na administração do futuro museu - Berardo a mandar, o Estado a pagar - dá-lhe garantias de continuar a gerir a colecção, independentemente de esta continuar na sua posse ou ser objecto de doação a "todos nós". O problema não reside portanto no facto de Berardo se recusar a doá-la, mas na sua valorização para o efeito e posterior dedução fiscal ao abrigo do mecenato cultural.
Imagine-se que aquilo lhe custou 1.000. Como se trata da mais grandiosa colecção de arte moderna deste mundo e arredores, hoje valerá no mínimo 5.000. Podendo deduzir este valor no seu IRS, o "nosso mecenas", que estará decerto no escalão dos 42%, terá uma poupança fiscal de 2.100, significando uma taxa de retorno do seu investimento de 110%. E anda a ministra da Cultura preocupada com ninharias...