Há um bom par de anos atrás, uma instituição universitária organizou um programa de conferências em algumas cidades do interior.
Foram convidadas várias personalidades académicas, sobretudo de Lisboa. Naturalmente, a organização logística das conferências fazia-se á distância, via telefone e fax. De igual modo, de Lisboa e do Porto, seguiam os convites e os posters publicitando tais iniciativas.
A adesão local, por via de regra, era muito boa. As forças vivas autóctones compareciam e, consigo, atraíam sempre curiosos ou interessados que, para o caso (ou seja, para se conseguir uma "sala cheia") eram igualmente muito bem vindos! As conferências eram sistematicamente um sucesso.
Um dia, um insigne académico lisboeta, versado em mística e em história das religiões, foi convidado para conferenciar, em Lamego, no âmbito de tal iniciativa, tendo escolhido como tema para a sua palestra o papel da Virgem Maria na sociedade contemporânea.
Encomendaram-se os cartazes e os posters, enviaram-se os convites, organizaram-se as viagens e estadias e, eis que, na véspera da conferencia, recebem os organizadores um telefonema estranho, de Lamego. Com efeito, o mandatário local da organização queixava-se da incomodidade do tema a abordar na conferência do dia seguinte. Ainda por cima - dizia - numa cidade tradicionalista e muito conservadora, como era o caso de Lamego.
Tudo bem - retorquiram-lhe de Lisboa - mas, precisamente por isso, e até mesmo porque o Sr. Bispo já confirmou a sua presença, falar-se da Virgem Maria não seria, à primeira vista, despropositado...
Sim, sim, se fosse da Virgem Maria, tudo bem...só que os cartazes que estavam espalhados por toda a cidade apenas anunciavam, em letras garrafais, que o Professor X ... falaria do PAPEL DAS VIRGENS, NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA. Nada de culto Mariano, nada de religioso, enfim...apenas as virgens....bem se vê o incómodo!
Com efeito, os erros nas tipografias acontecem - descobriu-se quando já era tarde demais!
Lembrei-me de tudo isto, designadamente, da importância das virgens, a propósito daquilo que, aparentemente, sem erro, é a posição de certa jurisprudência italiana, relatada aqui: Not a virgin? Sex crimes aren't as (so) serious