«A Portucel vai fazer o maior investimento industrial em Portugal a seguir à AutoEuropa ao investir 900 milhões de euros numa nova máquina de produção de papel e na modernização das fábricas da empresa da Figueira da Foz e de Cacia, em Setúbal, noticia o «Jornal de Negócios». Este negócio envolve uma nova máquina de produção de papel deverá conseguir produzir dois quilómetros de papel por minuto, mas também uma contrapartida do Governo em incentivos fiscais e financeiros na ordem dos 175 milhões de euros, o valor máximo permitido pela União Europeia. A Portucel fica ainda a ganhar em termos de acessos por estrada e combóio, assegurando também um maior escoamento portuário, beneficiando ainda de uma nova política para a floresta, onde se passa a apostar numa política contra incêndios e plantação de eucaliptos em terrenos baldios.»
Portucel dispara mais de 9% e fixa novo máximo histórico.
Aumento da capitalização bolsista da Portucel de ontem para hoje:
131 milhões de euros.O que aconteceu:
A sociedade, ganha ou perde?Estado subtrai 175.000.000 de euros (mais o que não se diz) aos contribuintes e oferece-os a accionistas privados de uma empresa.
Perde. Há destruição de valor. O aumento de riqueza dos accionistas é, tudo indica, inferior ao montante da oferta pública de impostos.
Em resumo.
Uma empresa privada quer fazer uma nova fábrica. A empresa privada, que concorre no mercado com outras empresas também privadas, pede ajudas ao estado. A empresa privada, aproveita para meter no pacote tudo o que tem à mão, desde recuperações de fábricas antigas, equipamentos novos, provavelmente bastantes despesas de manutenção corrente. Melhorias que lhe darão vantagens face à concorrência. O estado aceita esta estratégia, de modo a que a sua participação não pareça tão grande. 175 em 900 soa melhor que 175 em 400, 500 ou 600. Além disso, paga estradas, linhas férreas e oferece seguros contra incêndios, entre outros. Da parte às claras são cerca de 50 euros por cada português activo pagador de impostos no sector privado da economia. Do resto, que se lê nas entrelinhas, nem sabemos quanto.
Razão tem o João Miranda, como sempre. Vale sempre a pena desconfiar de certos investimentos privados, principalemente quando são anunciados por políticos. Somos nós, os contribuintes, que pagamos grande parte da factura. Somos investidores involuntários, sem direito a dividendo.