9.5.06

Justiça estatística gera injustiças individuais

Maria tem uma doença genética. Tem 50% de probabilidades de gerar um filho deficiente, um risco que ela não está interessada em correr. Este risco poderia ser significativamente reduzido se Maria pudesse recorrer a técnicas de Reprodução Medicamente Assistida. Essa seria a sua prioridade se Maria pudesse dispôr de toda a riqueza gerada pelo seu próprio trabalho. Mas não pode. Metade dessa riqueza é gerida pelo estado que tem outras prioridades. Maria devia estar contente porque está a contribuir para a realização da justiça social. A justiça social, ao contrário do conceito de justiça a que Maria está habituada, é uma forma de justiça estatística. A justiça social é a soma de muitas justiças com muitas injustiças. Espera-se que em média se faça justiça. Maria teve azar. Não faz parte de um grande grupo social com uma necessidade mediana e por isso não aparece em nenhum dos grandes segmentos do mercado político. Um dia pode ser que Maria consiga integrar o segmento dos "eleitores com necessidades esquisitas". Nessa altura, pode ser que passe a poder gastar a riqueza por si produzida nas suas próprias prioridades. Entretanto, vai contribuindo para as prioridades dos outros. Os impostos de Maria financiam creches, escolas e licenças de maternidade. O governo diz que o dinheiro de Maria está a ser usado para estimular a natalidade.