Recentemente surgiu uma polémica relativa ao índice de massa corporal (IMC) de modelos de sexo feminino. Sobre o tópico desejaria apresentar breves considerações. Antes, contudo, convirá dizer que o IMC é um parâmetro que reflecte a relação entre o peso corporal e a altura. O seu cálculo é feito através da fórmula peso/ quadrado da altura. Em consequência da fórmula utilizada, o IMC varia de forma inversa relativamente à altura (mais precisamente, ao seu quadrado) - aspecto com alguma importância na matéria em apreço.
O problema que se colocou foi o IMC baixo de alguns modelos de sexo feminino, correspondendo ao facto de se poder tratar de pessoas relativamente altas e magras. Por que razão predomina este tipo físico? Eis uma primeira questão a que interessaria dar resposta. Irei abordar duas possíveis explicações para o fenómeno. Deixarei para outros explicações alternativas.
O problema que se colocou foi o IMC baixo de alguns modelos de sexo feminino, correspondendo ao facto de se poder tratar de pessoas relativamente altas e magras. Por que razão predomina este tipo físico? Eis uma primeira questão a que interessaria dar resposta. Irei abordar duas possíveis explicações para o fenómeno. Deixarei para outros explicações alternativas.
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Uma primeira possível explicação recorre aos meros mecanismos de mercado. Nesta visão, o mercado da moda seleccionou o tipo de modelo que gera maiores lucros, ou seja, que se associa a maiores vendas dos produtos de moda. Num meio altamente competitivo a nível global, parece pouco credível que, a existir alguma vantagem em apresentar modelos diferentes daqueles que actualmente são seleccionados, tal não fosse feito. Ficaria a vantagem concorrencial para outros. Os mecanismos do mercado constituem a primeira explicação que surge no espírito de qualquer observador, ainda que distante. Nesta visão, as pessoas altas e magras fariam sobressair a roupa de uma forma mais nítida, induzindo os compradores à aquisição da mesma.
Uma segunda explicação tem a ver, não apenas com o aspecto dos objectos de moda (roupa, etc.) mas também com as próprias pessoas. Os modelos serviriam de padrão físico desejável, ou seja, os modelos agiriam como a própria palavra indica (como um modelo). Tal poderia dever-se ao conhecimento cada vez mais generalizado na população dos malefícios do excesso de peso. À medida que a ciência médica se debruça sobre os problemas de um IMC excessivo, o mundo da moda responderia com IMCs baixos, da mesma forma que nos supermercados aumentam as bebidas light e os alimentos low-fat. Os modelos com IMC baixo seriam a contrapartida da moda aos alimentos com poucas calorias, pouco colesterol e pouco sal.
A ser verdadeira uma destas explicações, ou mesmo ambas, a consequência seria que o fenómeno não estaria em vias de desaparecer com facilidade, uma vez que nem os mecanismos de mercado nem a epidemia de obesidade parecem estar em vias de desaparecer. Por esclarecer está também se os eventuais efeitos predominantes resultantes da exposição ao público de muitos modelos com um valor baixo de IMC são negativos ou positivos, uma vez que a obesidade é uma situação incomparavelmente mais frequente do que a anorexia.
Seria talvez a ocasião para passar para a perspectiva liberal desta matéria, com particular destaque para um tipo de liberdade na qual não pensamos frequentemente - a liberdade de escolher o que se come e de se fazer o exercício físico que se quer. O esclavagismo caracterizou-se, em muitos momentos da História, pelo facto de não existirem essas liberdades: o escravo tipicamente trabalhava para além da sua vontade e comia uma ração escolhida por outros. Diferentes tipos de esclavagismo associaram-se a diferentes tipos de alimentação. Partilharam, contudo, o traço fundamental da falta de liberdade.
Em termos médios, os valores extremos de IMC associam-se a um prognóstico menos favorável, segundo alguns estudos recentes, muito embora factores como o tabagismo e doenças crónicas sejam importantes neste contexto. Esse tipo de dados, contudo, devem ser tidos em conta por cada um, e não devem conferir poderes especiais a uma qualquer entidade que não seja a pessoa em causa. Este conceito não contradiz a bondade de medidas tendentes a trazer informação credível ao conhecimento de cada pessoa, entendida esta como entidade autónoma e livre.
Reneguemos a discriminação e a coacção, ainda que sem grilhetas, sanzalas ou campos de concentração, admitindo que a dignidade de cada pessoa é independente da sua altura e peso.
José Pedro Lopes Nunes
Uma primeira possível explicação recorre aos meros mecanismos de mercado. Nesta visão, o mercado da moda seleccionou o tipo de modelo que gera maiores lucros, ou seja, que se associa a maiores vendas dos produtos de moda. Num meio altamente competitivo a nível global, parece pouco credível que, a existir alguma vantagem em apresentar modelos diferentes daqueles que actualmente são seleccionados, tal não fosse feito. Ficaria a vantagem concorrencial para outros. Os mecanismos do mercado constituem a primeira explicação que surge no espírito de qualquer observador, ainda que distante. Nesta visão, as pessoas altas e magras fariam sobressair a roupa de uma forma mais nítida, induzindo os compradores à aquisição da mesma.
Uma segunda explicação tem a ver, não apenas com o aspecto dos objectos de moda (roupa, etc.) mas também com as próprias pessoas. Os modelos serviriam de padrão físico desejável, ou seja, os modelos agiriam como a própria palavra indica (como um modelo). Tal poderia dever-se ao conhecimento cada vez mais generalizado na população dos malefícios do excesso de peso. À medida que a ciência médica se debruça sobre os problemas de um IMC excessivo, o mundo da moda responderia com IMCs baixos, da mesma forma que nos supermercados aumentam as bebidas light e os alimentos low-fat. Os modelos com IMC baixo seriam a contrapartida da moda aos alimentos com poucas calorias, pouco colesterol e pouco sal.
A ser verdadeira uma destas explicações, ou mesmo ambas, a consequência seria que o fenómeno não estaria em vias de desaparecer com facilidade, uma vez que nem os mecanismos de mercado nem a epidemia de obesidade parecem estar em vias de desaparecer. Por esclarecer está também se os eventuais efeitos predominantes resultantes da exposição ao público de muitos modelos com um valor baixo de IMC são negativos ou positivos, uma vez que a obesidade é uma situação incomparavelmente mais frequente do que a anorexia.
Seria talvez a ocasião para passar para a perspectiva liberal desta matéria, com particular destaque para um tipo de liberdade na qual não pensamos frequentemente - a liberdade de escolher o que se come e de se fazer o exercício físico que se quer. O esclavagismo caracterizou-se, em muitos momentos da História, pelo facto de não existirem essas liberdades: o escravo tipicamente trabalhava para além da sua vontade e comia uma ração escolhida por outros. Diferentes tipos de esclavagismo associaram-se a diferentes tipos de alimentação. Partilharam, contudo, o traço fundamental da falta de liberdade.
Em termos médios, os valores extremos de IMC associam-se a um prognóstico menos favorável, segundo alguns estudos recentes, muito embora factores como o tabagismo e doenças crónicas sejam importantes neste contexto. Esse tipo de dados, contudo, devem ser tidos em conta por cada um, e não devem conferir poderes especiais a uma qualquer entidade que não seja a pessoa em causa. Este conceito não contradiz a bondade de medidas tendentes a trazer informação credível ao conhecimento de cada pessoa, entendida esta como entidade autónoma e livre.
Reneguemos a discriminação e a coacção, ainda que sem grilhetas, sanzalas ou campos de concentração, admitindo que a dignidade de cada pessoa é independente da sua altura e peso.
José Pedro Lopes Nunes